Enciclopédia do caso Evandro

Extras Episódio 03

1989-1990 – ROBERTO REQUIÃO COMO SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO URBANO DO PARANÁ E CONSELHO DO LITORAL 

Ao final do seu mandato na prefeitura de Curitiba em 1989, Requião foi convidado pelo então governador Álvaro Dias a assumir a Secretaria do Desenvolvimento Urbano, ficando nesse cargo até 1990, quando lançou sua candidatura a governador do estado. Visava desenvolver o litoral do Paraná mas sem comprometer a qualidade das praias, freando a especulação imobiliária na beira do mar, evitando a construção de prédios muito altos que fariam sombra à tarde. Em troca os municípios que fizessem parte do Conselho do Litoral do Paraná, sendo Guaratuba um deles, iriam receber recursos financeiros do estado que poderiam ser usados para investimentos de infraestrutura. O acordo não foi muito bem recebido por algumas prefeituras pois essa medida significava uma perda de autonomia. Aldo Abagge foi um dos prefeitos que não ficou satisfeito com essa medida e resolveu se retirar do Conselho do Litoral do Paraná. Com isso Guaratuba não receberia mais recursos do estado. Foi essa atitude que Diógenes Caetano dos Santos Filho passou a criticar nos seus panfletos contra a gestão Abagge.  

 

1992 – ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE GUARATUBA

Por ser um grande crítico da relação da gestão de Aldo Abagge, especialmente em respeito à sua atuação no Conselho do Litoral do Paraná, e após frustrar-se por não ter conseguido atuar mais ativamente nas discussões na câmara dos vereadores de Guaratuba, em 1992 Diógenes Caetano dos Santos Filho lançou sua candidatura a vereador pelo PDC.

No mesmo período, Celina Abagge buscava implementar um diretório do PST em Guaratuba, partido conhecido pela afiliação de Álvaro Dias, ex-governador do Paraná e um dos políticos mais importantes do estado. Fazia isso com o interesse de lançar uma candidata à prefeitura por aquele partido.

Aparentemente, Aldo Abagge não tinha pretensões em continuar atuando na política. Mas seu vice, Paulo Chaves, era filiado ao PDT, partido este que lançou José Ananias dos Santos, o vitorioso do pleito. Em segundo lugar, ficou Miguel Jamur, do PMDB de Requião, e José Carlos de Miranda, do PDC – partido no qual Diógenes lançou-se como candidato a vereador.

Após sua prisão, Celina foi expulsa do PST e sua candidata sequer chegou a concorrer.

Diógenes, por sua vez, não foi eleito.

Fonte: TRE-PR 

 

29 DE MAIO DE 1992 – DIÓGENES DENUNCIA A FAMÍLIA ABAGGE

Diógenes denuncia as Abagges para Celso Carneiro Amaral, na época Procurador de Justiça do Paraná. Ele acusa o Grupo TIGRE de ser próximo demais da família e estar sendo ludibriado pela mesma. Diógenes fez parte da polícia um tempo antes mas saiu para ser engenheiro civil. Com seus conhecimentos como policial Diógenes pode fazer investigações por conta própria e desta forma, analisando o processo como um todo, foi essa investigação que levou o Grupo Águia mais adiante nas investigações e a supostamente solucionar o caso e realizar as prisões, passando por cima do Grupo TIGRE.

Diógenes era um grande crítico da gestão de Aldo Abagge, apesar de afirmar que se dava bem com ele e com toda a família Abagge, e ao todo publicou nove panfletos e todos saíram antes do desaparecimento de Evandro Ramos Caetano. Diógenes levou todos esses panfletos para serem anexados quando fez a denúncia ao Ministério Público. A denúncia apontava para atividades suspeitas envolvendo o pai de santo Osvaldo Marcineiro, Celina e Beatriz Abagge e outras pessoas. As tais atividades suspeitas seriam: a tentativa de Paulo Brasil em impedir que a imprensa paranaense cobrisse o desaparecimento de Evandro um dia após o seu desaparecimento; a proibição que Celina Abagge promoveu contra manifestações públicas de estudantes que reivindicavam por maior segurança; que na madrugada do dia sete para oito de abril Osvaldo utilizando suas capacidades divinatórias teria ajudado os tios de Evandro, Davina Correia Ramos Pikcius e Mario Pikcius, na procura pelo menino e teria apontado um local afastado que não foi investigado e que dias depois seria o local onde o corpo foi encontrado e a última suspeita foi a previsão feita dias antes por Osvaldo sobre uma “grande tragédia que aconteceria em Guaratuba” e após o ocorrido com Evandro, Osvaldo teria aumentado o valor da sua consulta.  Ao que tudo indica Diógenes tentou várias vezes passar essas informações para os delegados do Grupo TIGRE, especificamente para Adauto Abreu e Leila Bertolini mas de acordo com ele as pistas que Diógenes dava geralmente não traziam resultados e nem chegavam a ser linhas de investigação muito fortes.

Num depoimento prestado em 2004 durante o julgamento dos réus Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira e Davi dos Santos Soares, Leila Bertolini comenta sobre esses eventos e sobre o clima que havia sobre a figura de Diógenes. Para ela as motivações de Diógenes eram passionais e suas acusações levianas, suas informações não davam resultados e ele nunca apontava as fontes de suas acusações, chegando a atrapalhar as investigações. Diógenes usava esse argumento feito por Leila para comprovar a proximidade do Grupo TIGRE com a família Abagge, sendo essa a razão para ignorarem suas pistas.

Em todos os julgamentos ocorridos referentes aos sete réus as defesas sempre partiram para ataques contra a figura de Diógenes.  Afinal se conseguissem mostrar que o principal acusador das Abagge nutria ódio ou desejo de vingança contra eles cresceria a dúvida sobre as intenções e veracidade da sua denúncia.

Diógenes nunca foi muito próximo da família, nos julgamentos não lembrava a data de nascimento do sobrinho apesar de ter uma memória excelente para outras datas e acontecimentos. Apesar disso foi graças aos seus incansáveis esforços que o caso foi solucionado. Na época essa discrepância levou muitos a desconfiar nas razões que o fizeram virar o porta-voz da família de Evandro, se elas seriam legítimas ou com segundas intenções.

Diógenes pode ter armado contra a família Abagge por duas razões: a separação de seus pais, supostamente causada por um caso que seu pai, também chamado Diógenes, teve com Celina Abagge. Celina nega que tal fato tenha acontecido. Diógenes diz que Celina sempre foi apaixonada por seu pai mas preferiu ficar com Aldo porque “ela gostava de poder”. O segundo motivo: Diógenes tinha interesses políticos e queria destruir a família Abagge e se promover às custas da sua ruína. Diógenes nega essas acusações, dizendo que queria apenas ser uma voz crítica a gestão de Aldo Abagge.

Apesar disso a família Caetano e a família Abagge eram próximos na década de 70, Celina e Aldo ajudaram Diógenes pai ser eleito como prefeito de Guaratuba na época. E foi nesse período que o suposto caso entre Celina e o pai de Diógenes teria ocorrido. Para os advogados de defesa esse foi o momento que surgiu o desejo de vingança de Diógenes contra os Abagge.

 

02 DE JULHO DE  1992 – PRISÕES
Celina e Beatriz confessam que assassinaram Evandro junto de mais cinco pessoas, entre elas os pais de santo Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula, na noite do dia sete de abril. Meses após numa entrevista concedida a jornalista Monica Santanna as Abagge disseram que foram forçadas a confessar após serem torturadas. As prisões foram realizadas pelo Grupo Águia, grupo que fazia parte da inteligência da polícia militar, chamada de P-2. Essa ação ocorreu sem o conhecimento do Grupo TIGRE, que era o encarregado das investigações na época.

Apesar do inicial mistério sobre o envolvimento do Grupo Águia na investigação, Moacir Favetti afirmou que essa investigação ocorreu porque o Grupo TIGRE estaria sendo enganado pela família Abagge.


2016 – ENTREVISTA COM DIÓGENES 
Muitos que conviveram com Diógenes na época o descrevem como vingativo, lunático e perigoso. Ainda assim, neste dia, Mizanzuk foi até Guaratuba para entrevistar Diógenes em seu escritório. A intenção era confirmar alguns nomes e informações que Diógenes sempre repetia. Quem poderia confirmar a previsão de Osvaldo sobre a “grande tragédia de Guaratuba”? Quem poderia confirmar sobre o caso que o pai de Diógenes teve com Celina? Mais alguém viu que Osvaldo e Vicente tinham o costume de realizar sacrifícios de animais? Diógenes fala dessas coisas em todas as entrevistas e depoimentos que já deu e sem nunca citar nomes de pessoas que poderiam confirmar se todas essas acusações são realmente verdadeiras. Nessa entrevista não foi diferente, os nomes que Diógenes citou ou não quiseram dar entrevista ou não foram encontrados. Restou confrontá-lo sobre as acusações que fizeram contra ele como, por exemplo, a suposta vingança contra Celina Abagge. De qualquer forma essa questão fica descartada, sobrou apenas os interesses políticos que Diógenes poderia ter.