Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 21

No dossiê Operação Magia Negra, Irineu é citado como testemunha que viu o ritual sendo realizado na serraria, mencionando que Celina, Beatriz, Osvaldo, Bardelli e outras pessoas estavam presentes no local. No seu primeiro depoimento, realizado dia 3 de julho de 1992, Irineu não cita que viu Celina, dizendo que viu apenas: Bardelli, um homem que não conhecia e as duas filhas dos Abagge, chamando apenas Bardelli pelo nome, dando a entender que nem ao menos sabe o nome das filhas da família Abagge. De acordo com relatos de acusados e testemunhas teriam participado pelo menos dois homens e três mulheres: Beatriz, Andreia e Mariel, Irineu e Bardelli teriam apenas assistido.

Seja como for, não há correspondência entre o número de pessoas mencionadas nos relatos. Então como pôde Valdir Copetti Neves afirmar e ter tanta certeza no seu dossiê que o vigia viu Celina, Beatriz, Osvaldo e Bardelli na noite do dia sete? Ele poderia explicar isso melhor no julgamento de 2005, o único no qual ele depôs dizendo que foram os agentes que fizeram o levantamento sobre o número de pessoas que teriam participado do ritual. Contudo, suas respostas foram muito vagas para que pudéssemos tirar qualquer conclusão.

Será que foi realmente na sexta-feira santa que Bardelli dispensou os funcionários? Ou foi na semana do dia seis de abril? Ou isso teria ocorrido nas duas ocasiões? De acordo com Diógenes no seu livro, os funcionários foram dispensados por uma semana inteira e quem fez isso foi Bardelli. O que teria acontecido exatamente então?


DEPOIMENTO DE BRUNO STUELP, CONTADOR DA SERRARIA

No mesmo dia que Irineu prestou seu depoimento oficial, um outro funcionário também prestou depoimento: Bruno Stuelp, na época era o contador da serraria.

[DOWNLOAD] Bruno Stuelp – Depoimento de 3 de Julho de 1992

Ele diz que não se recorda se foi no dia do desaparecimento do Evandro ou um dia depois que estava na fábrica quando um outro funcionário, chamado Sigmar, solicitou autorização para ele e para Bardelli para trabalhar até mais tarde. Bardelli respondeu que ele poderia ficar mas que chegaria um pessoal pra fazer um trabalho e ele teria que sair. Por volta das 19:00 chegaram na serraria: Beatriz, Osvaldo, um senhor alto e moreno e outro que ele não conhecia. Bruno conversou com o pessoal que chegou sobre o trabalho que seria realizado, que tinha como objetivo desfazer qualquer trabalho que tivesse sido feito contra a firma, que ia mal financeiramente.

No primeiro depoimento de Irineu, ele citava apenas o ritual da sexta-feira Santa (ou quinta-feira, de acordo com o relato de Vicente de Paula). Levando em consideração o relato de Bruno Stuelp, faria mais sentido ser quinta-feira, uma vez que havia expediente de trabalho.

 

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DEPOIMENTOS IRINEU

 

1 de Julho de 1992: Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares são presos

2 de Julho de 1992: Beatriz Abagge, Celina Abagge e Vicente de Paula Ferreira são presos

3 de Julho de 1992: Airton Bardelli e Francisco Sérgio Cristofolini são presos

 

 

PRIMEIRO DEPOIMENTO DE IRINEU: 3 DE JULHO DE 1992

Delegado: José Carlos de Oliveira

Disse que houve um trabalho na sexta-feira santa. Não cita nenhum ritual ocorrido antes disso. Antes dele, há um depoimento de SIGMAR BATISTA, funcionário da serraria, que fala sobre esse ritual da sexta-feira santa. Ele também citava acerca de uma reforma que o escritório da serraria teria passado.

Pensando como algum policial da época: será que entenderam que esse ritual da sexta-feira santa era o mesmo que teria matado Evandro?

[DOWNLOAD] Depoimento de Sigmar Batista de 3 de Julho de 1992

[DOWNLOAD] Irineu – Primeiro Depoimento de 3 de Julho de 1992

O dossiê Operação Magia Negra, redigido e assinado pelo então capitão do Grupo ÁGUIA Valdir Copetti Neves, é datado de 7 de Julho de 1992. Ao citar o guardião Irineu e Sigmar Batista como testemunhas, teria ele se baseado nos depoimentos colhidos no dia 3 de Julho de 1992? É de se supor que sim, já que não há depoimentos anteriores dessas pessoas.

 

Trecho do dossiê Operação Magia Negra sobre testemunhas. Irineu é citado nessa primeira página.

 

Continuação do trecho sobre testemunhas no dossiê “Operação Magia Negra”. “Segmar (sic) Batista” é citado como a terceira testemunha.

 

[DOWNLOAD] DOSSIÊ OPERAÇÃO MAGIA NEGRA COMPLETO

 

 

 

SEGUNDO DEPOIMENTO DE IRINEU: 21 DE JULHO DE 1992

Delegado: João Ricardo Kepes Noronha

Resumo: Relata sobre um outro ritual que teria ocorrido antes daquele da sexta-feira santa, mencionado no primeiro depoimento. Cita que nesta ocasião teriam participado Celina Abagge, Airton Bardelli e outras pessoas desconhecidas, num total de sete pessoas. Este trabalho teria ocorrido por volta de 22 horas.  Depois, cita o trabalho da sexta-feira santa, quando teria chegado Airton Bardelli, Beatriz Abagge em companhia de “uma mulher gorda e dois homens”.

[DOWNLOAD] Irineu – Segundo Depoimento de 21 de Julho de 1992

 

O segundo depoimento de Irineu foi no dia 21 de julho de 1992. Dessa vez ele prestou depoimento ao novo delegado da polícia civil encarregado no caso, o Sr. João Ricardo Kepes Noronha, e pela primeira vez ele passa a relatar que havia ocorrido um novo ritual antes daquela Sexta-feira Santa.

Ele recorda que no início de abril, antes da Sexta-feira Santa, chegaram na serraria Celina e Bardelli por volta das 22:00 e em companhia de outras pessoas que ele não conhecia, no total de aproximadamente sete pessoas. Estavam em três carros, sendo que um deles era a Caravan do Bardelli e os outros eram carros de cor escura, mas não viu se tinha alguma criança com eles. Nessa noite Bardelli teria liberado Irineu para ir embora descansar e somente ele desceu do carro para falar com o vigia. Ele então foi até a sua casa, que fica em frente a serraria, dormiu e não reparou quando o grupo foi embora. No dia seguinte, na Sexta-feira Santa, estava na serraria por volta das 22:00 quando chegou Bardelli e Beatriz Abagge, em companhia de uma mulher e dois homens, que jogaram farofa pela serraria e pipoca na cabeça de irineu e dos demais que estavam na serraria. Também jogaram velas apagadas na casinha e no muro da frente do local

Ele esclarece que naquela noite no início do mês de abril eles recolheram os carros para dentro do pátio da serraria, uma vez que o portão que fecha a entrada do local ainda não havia sido construído. Também diz que quando foi trabalhar na sexta-feira não notou nenhuma escavação no local ou manchas em paredes externas, uma vez que não fez nenhuma vistoria na hora e nem tem acesso ao interior dos escritórios.

Ainda nesse dia, 21 de julho, Irineu foi arrolado como uma das testemunhas de acusação para depor para a juíza Anésia Edith Kovalski. A audiência estava marcada para 13 de agosto de 1992 e é quando ele cita a história completa, sobre ter visto os sete acusados na noite do dia sete de abril na serraria vestidos de branco.

Os depoimentos de Irineu foram evoluindo com o tempo, causando alguns questionamentos.

 

 

TERCEIRO DEPOIMENTO DE IRINEU: 13 DE AGOSTO DE 1992

Relata novamente do ritual do dia 7 de Abril, e dessa vez nomeia todos os acusados, afirmando que os teria conhecido naquele dia. O que chama a atenção é: como ele os teria reconhecido, sendo que ele sempre foi vago em nomes nos depoimentos anteriores? Mais adiante, ele relata que na sexta-feira santa (17 de Abril de 1992), as mesmas pessoas teriam ido fazer um outro trabalho, com exceção de Celina Abagge. Relata ainda que quando foi ouvido na delegacia na primeira vez (3 de julho), não se referiu ao ritual do dia 07 de Abril porque a autoridade não havia perguntado.

[DOWNLOAD] Irineu – Terceiro Depoimento de 13 de Agosto de 1992

 

 

 

MATÉRIA DO JORNAL “DIÁRIO POPULAR” DE 25 DE 26 DE DEZEMBRO DE 1994

Em entrevista, Irineu afirma que foi coagido e forçado a acusar os sete presos. Isso teria ocorrido entre o primeiro e segundo depoimentos. Ainda de acordo com ele, no dia 7 de Abril de 1992, ele estaria internado no hospital.

Capa do Jornal Diário Popular, de 25 e 26 de Dezembro de 1994. Irineu é matéria de capa.

 

Matéria completa sobre o relato de Irineu, afirmando que teria sido coagido para acusar os sete

 

 

Neste relato, ele contava que foi coagido por policiais para dizer que viu os sete acusados nas dependências da serraria. Afirmava também que no dia em que teria ocorrido o crime estava hospitalizado e coloca que viu alguns dos acusados no local, mas apenas dias depois daquele que teria ocorrido o crime. Quando os viu, o corpo de Evandro já havia sido encontrado e diz que lembra bem desses detalhes e que não teria dúvidas para repassar para a Justiça.

 

 

 

DECLARAÇÕES EM CARTÓRIO DE IRINEU: DE 3 A 8 DE FEVEREIRO DE 1995

Em 3 de fevereiro de 1995, Irineu registrou em cartório uma nova declaração. Nela, ele dizia que há mais de dois anos tentava dizer para repórteres e pessoas diversas que prestou depoimento em juízo referente ao caso Evandro e que disse nesses depoimentos coisas mandadas pelos policiais que estiveram na sua casa e o ameaçaram de morte. eles exigiam que Irineu afirmasse que estava na serraria nos dias 6 e 7 de abril de 1992 e que viu todos os acusados. Ele afirmava que não estava na serraria nesses dias pois estava doente, e que em momento algum viu qualquer pessoa, criança ou crime e não sabe o nome de todos os acusados.  

Ele também declarava que levou um atestado médico para a juíza Anésia e assim que ela recebeu o atestado disse que ele não poderia ser testemunha. Apesar disso pouco depois ela o chamou para ser testemunha do caso.

 

Declaração do guardião Irineu em cartório de Guaratuba, no dia 3 de Fevereiro de 1995. O que chama a atenção ao final do documento é o nome do empregado do cartório: Edson Tadeu Cristofolini.

 

[DOWNLOAD] Declaração de Irineu no Cartório de Guaratuba em 3 de Fevereiro de 1995

 

Um advogado passa a representar o sr. Irineu: o Dr. Lauro Antônio Schleder Gonçalves. No cartório do Taboão em Curitiba, ele registra uma procuração de representação de Irineu. Em seguida, registra também a declaração de Irineu, feita em Guaratuba, no cartório Volpi, também em Curitiba.

[DOWNLOAD] Procuração e registro de depoimento em cartórios de Curitiba (7 e 8 de Fevereiro de 1995)

 

 

 

DEPOIMENTO NO TRIBUNAL DO JÚRI EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS-PR: 20 DE ABRIL DE 1998

*ERRATA I: no episódio é citado que Irineu foi arrolado como uma das testemunhas da acusação no júri de 1998. Na realidade, ele foi arrolado como uma das testemunhas da defesa. 

 

Nesta ocasião, Irineu narra sua versão dos fatos, focando na questão de que teria sido coagido e que estaria internado no dia 7 de Abril de 1992, suposta data do ritual que teria matado Evandro. Contudo, seu depoimento é confuso em diversos momentos – quando, por exemplo, ele diz que não estava em nenhum cartório (folha 7813).

[DOWNLOAD] Depoimento de Irineu no Júri de São José dos Pinhais-PR em 20 de Abril de 1998

 

Em um momento do julgamento, o promotor Celso Ribas perguntava se realmente houve dois trabalhos na serraria e se Irineu se recorda disso. Irineu responde um “foi” de modo vago e confuso.

Outras confusões relativas ao seu depoimento de 1998 dizem respeito a pessoas e lugares que Irineu deveria conhecer. Na declaração que ele registrou em cartório é citado que ele estava acompanhado de um homem chamado Nelson Mazaneke. No júri de 1998, quando perguntado pelo promotor sobre isso, ele responde que não conhece o homem que o levou até o tabelião e que ele não sabe se Nelson é amigo dos réus ou da família Abagge. Para completar o caso no final de declaração aparece o nome do funcionário do cartório que digitou o texto. Seu nome era Edson Tadeu Cristofolini.

No dia 7 de fevereiro de 1995, pouco após o registro da declaração, há uma procuração assinada por um advogado chamado Lauro Antonio Schleder Gonçalves. Nessa procuração o advogado ganha poderes para representar Irineu, possuindo a firma dele reconhecida no dia seguinte com carimbo do cartório de Curitiba. Ainda no dia 8 de fevereiro de 1995 a mesma declaração, que foi registrada em Guaratuba, foi registrada em Curitiba.

No júri de 1998 Irineu foi confrontado pelo promotor e ele respondeu que nunca foi até o cartório para dar a declaração e que ele não conhece Curitiba, não esteve em nenhum cartório lá e não conhece Edson Cristofolini. Também há confusão se ele esteve ou não internado no dia que o crime teria ocorrido. para isso ocorrer ele deveria estar no hospital nos dias 6 e 7 de abril mas nesse júri ele diz que esteve internado em fevereiro.

Apesar disso o depoimento de Irineu provavelmente acabou sendo benéfico na defesa das Abagge, principalmente quando explica sua narrativa sobre ter sido coagido. Para a promotoria não há dúvidas sobre o que aconteceu aqui: Irineu teria sido coagido não por policiais mas pela família Abagge para que mudasse seu depoimento, protegendo assim a família, afinal foi o relato dele que colocou todos na cena do crime. E além de Irineu existe outra testemunha-chave para a acusação: o Sr. Edésio da Silva.