Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 30

 

DOCUMENTOS SOBRE ANÁLISE DO CADÁVER

DOWNLOAD LAUDO LEVANTAMENTO DE CADÁVER*

DOWNLOAD LAUDO NECROPSIA*

DOWNLOAD LAUDOS DNA EVANDRO

DOWNLOAD LAUDO ARLINDO BLUME – “TRABALHO PERICIAL”*

*As fotos do cadáver foram subtraídas das versões dos documentos disponíveis para download.

 

 

O EXAME DE DNA: TESE DA DEFESA

Para os advogados dos acusados, o exame de DNA assinado pelo médico Sérgio Danilo Pena, do Instituto Gene de Belo Horizonte, não era confiável. Isso porque a coleta de material enviado para a elaboração do laudo não foi acompanhada pela defesa e nem pela promotoria. Nesse sentido, não havia como ter certeza que os elementos levados ao laboratório realmente pertenciam ao corpo encontrado em Guaratuba no dia 11 de abril de 1992.

A defesa ainda dizia que três laudos tinham sido produzidos e que apenas o último havia dado positivo para a identificação de Evandro, o que mostrava um resultado inconclusivo. Além disso, outra crítica era de que os testes teriam demorado muito e custado caro demais.

Sobre esses pontos levantados pela defesa: primeiramente, o exame foi feito por iniciativa única e exclusiva da Polícia Civil do Paraná, que na época era chefiada pelo delegado-geral José Maria de Paula Correia. Isso explicaria a falta de envolvimento judicial e o motivo pelo qual não haveria a necessidade da presença de advogado e promotor no momento da coleta do material.

Outro ponto a ser colocado em contexto é que em 1992 sequer havia um protocolo sobre o uso de DNA em casos criminais, já que se tratava de uma tecnologia muito nova e de acesso limitado. Isso também esclarece a escolha do Instituto Gene de Belo Horizonte. Ele era um dos poucos lugares do Brasil onde esse tipo de procedimento era feito. Por conta disso, era um serviço caro, com uma fila grande de demandas.

Já a discussão em torno dos três laudos pode ser resolvida a partir da análise de especialistas consultados para a produção do podcast. Os documentos foram apresentados a eles e a conclusão foi unânime: não são três laudos, mas apenas um, feito em três partes. Os dois primeiros são relatórios preliminares e o terceiro é o conclusivo.

Como se esse problema de linguajar técnico não bastasse, existe outra contradição. Ao contrário do que o delegado Luiz Carlos de Oliveira – designado para o caso de Leandro Bossi na época – afirmava em entrevistas e depoimentos, a conclusão de que o corpo era de Evandro não apareceu só no último laudo. A segunda parte do exame já apontava esse resultado.

No relatório preliminar são citados os materiais coletados do cadáver que foram enviados para o exame: dois dentes, um de leite e um permanente, um fêmur e um bloco histológico com fragmento de músculo. Todos esses elementos foram comparados com o sangue de Ademir e Maria Caetano, pais de Evandro.

 

LINHA DO TEMPO DAS INVESTIGAÇÕES

Segue abaixo uma linha do tempo que mostra os acontecimentos que levaram ao exame de DNA. Mais abaixo desta página, há uma outra versão dessa linha do tempo focada nos documentos:

  • 30 de abril de 1992: o diretor do Instituto de Criminalística de Curitiba, Luiz Gabriel Costa Passos, pede ao Instituto Médico-Legal (IML) da capital a análise das vestes do corpo e de roupas abandonadas próximas a ele, para buscar indícios de sangue e sêmen.
  • 18 de maio de 1992: o relatório do IML fica pronto. Assinado pelas químicas legais Dulcineia Coelho e Sonia Maria Ribeiro Grassano, ele aponta que os materiais estavam degradados demais para que a presença de sangue fosse analisada. Em nenhuma das peças examinadas havia sêmen.
  • 1, 2 e 3 de julho de 1992: os acusados são presos em Guaratuba. No dia 3, os policiais apreendem objetos na casa de Osvaldo Marcineiro: um alguidar com manchas avermelhadas que pareciam ser sangue, um facão e um punhal. Na mesma ocasião, eles realizam perícia na serraria Abagge.
  • 6 de julho de 1992: busca e apreensão é realizada na casa da família Abagge. Nenhum objeto de destaque é encontrado no local.
  • 7 de julho de 1992: carro Escort de Beatriz Abagge é apreendido pela polícia. No mesmo dia, o delegado João Ricardo Kepes Noronha requisitava ao Grupo Águia que lhe fossem entregues todos os materiais referentes ao caso Evandro.
  • 8 de julho de 1992: o Laboratório de Química Legal do IML encerra o exame pericial de diversos materiais. Entre eles, o alguidar encontrado na casa de Osvaldo, dois facões, dois feixes com fios de cobre retorcidos, um punhal e um batedor de carne. A segunda etapa do teste confirma a presença de sangue nos objetos. Como eles eram próprios para sacrifício de animais, como Osvaldo afirmava, isso não era exatamente uma surpresa. Somente no alguidar é que se examina a possibilidade da presença de sangue humano e o teste dá negativo. O relatório declara, no entanto, que apenas um exame de DNA poderia confirmar esse detalhe com maior certeza – tecnologia que o laboratório não possuía. Nesse mesmo dia, o delegado Noronha pede que novas buscas sejam feitas na serraria e nas casas de Osvaldo e das Abagge.
  • 9 de julho de 1992: As buscas são realizadas. Na casa de Osvaldo, a polícia encontra fitas de vídeo, entre elas, filmes de terror; no imóvel da família Abagge foram apreendidas armas de fogo e rádios comunicadores. Na serraria, nada de relevante foi coletado. No mesmo dia, Noronha pega com a mãe de Evandro algumas peças de roupa do garoto, que deveriam ajudar em alguma etapa da investigação, mas aparentemente nunca tiveram grande importância.
  • 10 de julho de 1992: Terceira busca e apreensão é realizada na casa de Osvaldo. Dessa vez, policiais coletam livros, cadernos com nomes de clientes e um recorte de jornal com matéria sobre a morte de Evandro. Na ocasião, Noronha envia os revólveres e rádios apreendidos na casa das Abagge para análise no Instituto de Criminalística. Nada de relevante é encontrado. Ainda no dia 10, o delegado recebe o dossiê Operação Magia Negra e a fita cassete com as confissões de Celina e Beatriz.
  • 11 de julho de 1992: ocorrem as acareações – confrontações de versões – entre os cinco homens presos no presídio do Ahú, em Curitiba. Nesse momento, Osvaldo, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula relatam que também seriam responsáveis pelo sumiço de Leandro Bossi.
  • 12 de julho de 1992: com as novas informações, o delegado Luiz Carlos de Oliveira vai ao presídio e conversa com Osvaldo. Essa é a primeira vez que o acusado alega que foi torturado para confessar e reforça que é inocente nos casos Evandro e Leandro.
  • 13 de julho de 1992: o escrivão da Polícia Civil, Marco Do Nascimento, passa a tomar providências com o IML de Curitiba para que o alguidar e o facão de Osvaldo sejam encaminhados para um teste de DNA. Nesse processo, o delegado-geral da Polícia Civil, José Correia, é responsável por escrever uma carta ao laboratório do FBI no Uruguai, perguntando se há a possibilidade de o exame ser realizado lá.
  • 16 de julho de 1992: ofício do setor de Química Legal do IML, assinado por Maria Regina Sawaya Rolim e Maria Cristina Sawaya Novak, é enviado ao delegado Noronha. O documento faz referência a um pedaço de parede retirado do escritório da serraria Abagge, onde o suposto ritual teria ocorrido – não há informações sobre a data da apreensão do material. Nele havia uma mancha avermelhada, que o ofício das químicas concluiu ser sangue humano. A questão do bloco de alvenaria, no entanto, nunca avançou muito no processo. As defesas sempre justificaram duas possíveis origens para a mancha de sangue: a primeira é de que Airton Bardelli, gerente da serraria, uma vez teria deixado um bêbado dormir no local. O homem então se machucou e manchou a parede. Quem conta essa história em júri é Irineu Wenceslau de Oliveira, guardião do imóvel na época. Já a segunda explicação dá conta de que era normal que pessoas se machucassem no lugar, já que se tratava de uma serraria.
  • 22 de julho de 1992: o laboratório do FBI no Uruguai responde o pedido do delegado Correia. O órgão afirma que não possui protocolo apropriado para fazer o teste de paternidade, como a polícia requeria, e sugere que os exames sejam feitos em um laboratório privado.
  • 30 de julho de 1992: o diretor do IML de Curitiba, José Marcos Parreira, envia uma carta ao médico Sérgio Danilo Pena, do Instituto Gene, sobre a realização do exame de DNA. Nela, ele lista os materiais que gostaria de enviar para o teste: uma tigela de barro; dois facões; um martelo de madeira; o bloco de alvenaria; dentes, ossos e fragmentos de pele, músculo e pulmão retirados do cadáver; e o sangue que poderia ser coletado dos pais de Evandro.
  • 31 de julho de 1992: o laboratório do IML retorna a perícia de uma série de outros materiais apreendidos e conclui que não encontrou traços de sangue em nenhum deles.
  • 03 de agosto de 1992: Danilo Pena responde ao ofício do IML de Curitiba, falando sobre os materiais a serem analisados e o preço do procedimento.
  • 12 de agosto de 1992: o delegado Luiz Carlos de Oliveira passa a questionar a identidade do corpo, alegando que poderia ser de Leandro Bossi.
  • 13 de agosto de 1992: o promotor Antonio César Cioffi de Moura envia ofício à juíza Anésia Edith Kowalski pedindo autorização para apreender um material enterrado na calçada da loja Berimbau, que pertencia a Antonio Costa – empresário local conhecido de Osvaldo. A informação de Moura sobre essa suposta pista veio de Diógenes Caetano dos Santos Filho, que no mesmo dia prestou depoimento à juíza como testemunha de acusação. Segundo o primo de Evandro, um alguidar teria sido enterrado na calçada na metade de fevereiro daquele ano, próximo da data de desaparecimento de Leandro. Ele defendia que o objeto continha o sangue do garoto. A juíza acata o pedido e a busca é realizada na madrugada do dia 13 para 14. Mais tarde, o pote desenterrado é incluído na lista de materiais que seriam enviados ao Instituto Gene para o exame de DNA.
  • 25 de agosto de 1992: Danilo Pena informa que recebeu todos os materiais. Ele também enumera os materiais selecionados para análise: sangue de Ademir e Maria Caetano, dente extraído do cadáver, bloco de alvenaria e o líquido encontrado na tigela de barro.
  • 10 de setembro de 1992: o dono da loja Berimbau presta depoimento e comenta que o pote foi enterrado no local no último mês de maio, não fevereiro como Diógenes havia dito.
  • 14 de outubro de 1992: relatório do Laboratório de Química Legal do IML de Curitiba registra que havia sangue no líquido do pote de barro. Uma parte dele ficou na capital e a outra foi enviada para o Instituto Gene, para verificar se havia DNA humano. Osvaldo dizia que se tratava do sangue de um frango que ele havia sacrificado.
  • 7 de novembro de 1992: sai o primeiro laudo preliminar do exame de DNA realizado pelo Instituto Gene.
  • 9 de dezembro de 1992: o segundo laudo fica pronto e já indica correspondência entre o sangue dos pais de Evandro e o material analisado do cadáver.
  • 21 de março de 1993: o Instituto Gene finaliza o laudo conclusivo, que confirma a identidade de Evandro.

 

A DEMORA E O CUSTO DO EXAME

Durante todo o processo do exame de DNA, o delegado Luiz Carlos de Oliveira sempre criticou dois pontos: a demora nos testes, que segundo ele deveriam levar apenas 30 dias, mas que só ficaram prontos após cinco meses; e o suposto custo de 20 mil dólares, quando na verdade o valor cobrado normalmente seria de 2 mil dólares. Um dos momentos em que Oliveira citava essas questões foi em entrevista que concedeu à jornalista Vania Mara Welte, no jornal Hora H, na edição de 10 a 16 de Junho de 1996.

Primeiro, sobre a demora, é possível dizer que a interpretação do delegado é questionável. Como a linha do tempo mostra, o primeiro laudo saiu no dia 7 de novembro de 1992, o segundo em 9 de dezembro e o terceiro em 21 de março de 1993 – totalizando 210 dias desde a coleta dos materiais. À primeira vista, de fato há algo estranho nesse intervalo, que é bem maior do que os 30 dias mencionados por Oliveira. Mas o problema dessa leitura é que não havia um padrão para esse tipo de procedimento em 1992. A tecnologia era muito nova, o Instituto Gene era um dos únicos laboratórios do Brasil que dispunha dos testes, e a demanda de trabalho era difícil de se calcular. Todos esses fatores podem ter contribuído para a demora dos exames.

Já em relação ao preço, a ideia de parâmetro vem da resposta do laboratório do FBI no Uruguai ao delegado José Maria Correia, em 22 de julho de 1992. Na carta, o órgão informa que os procedimentos custariam em torno de 2 mil dólares. Como Oliveira ainda estava no caso Leandro Bossi na época, é provável que tenham lhe repassado esse valor. Todas as vezes que ele deu entrevista e depoimentos falando sobre os 20 mil dólares, ele estava enganado – pelo menos de acordo com o que consta nos documentos oficiais.

O preço que o IML pediu ao governo do Paraná para a realização dos exames era de 30 milhões de cruzeiros. A ideia era exigir um valor mais alto, para que o restante do dinheiro não usado fosse devolvido mais tarde. O governador Roberto Requião autorizou a transferência em 11 de agosto de 1992.

O cálculo dessa quantia pode ser feito com auxílio de dados históricos do Banco Central. No meio de uma inflação galopante e uma crescente crise política que resultaria no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, 30 milhões de cruzeiros equivaliam a US$ 6.555,15 no dia 13 de agosto de 1992.

O Instituto Gene, no entanto, nunca cobrou em dólares. Isso é verificável nas ordens de pagamento emitidas pelo estado do Paraná, que foram feitas em duas partes: a primeira data de 25 de agosto no valor de 10,8 milhões de cruzeiros – o equivalente a US$ 2.167,45, segundo a cotação do dólar no dia. A segunda é de 25 de novembro, no valor de 8 milhões de cruzeiros, que correspondiam a US$ 820. No total, os testes realizados custaram 18,8 milhões de cruzeiros, ou US$ 2.987,45.

Oliveira nunca comentou de onde exatamente tirou a informação dos 20 mil dólares, mas conforme os documentos da época mostram, o valor declarado é muito menor.

 

TRANSPORTE DOS MATERIAIS

O transporte das evidências até o Instituto Gene é mais um aspecto destacado pela defesa. Como o exame foi iniciativa da Polícia Civil e os procedimentos não foram acompanhados por advogados ou promotores, o registro do processo acabou comprometido. Isso foi um equívoco, mas não havia protocolo específico para esse tipo de situação na época.

O que consta nos autos é que os materiais foram selecionados e cuidados pelo então diretor do IML, José Marcos Parreira, enviados até Belo Horizonte e entregues ao médico Sérgio Danilo Pena. De acordo com as informações oficiais, não há qualquer indício de que as evidências tenham sido manipuladas ou de que outros materiais foram adicionados posteriormente. Houve apenas um único envio, sob responsabilidade do delegado Noronha e duas químicas do IML.

Há histórias de que Noronha teria ido até a casa da família Caetano e coletado um dente de leite com a mãe de Evandro, que teria sido então usado no teste de DNA. Não existe, porém, nada que comprove isso. Na verdade, os dados oficiais indicam que, além dos dentes do corpo encontrado, os elementos utilizados para o exame foram um fêmur e um bloco histológico com um pedaço de músculo – materiais difíceis de serem falsificados.

 

RESULTADOS

O primeiro relatório do exame de DNA afirmava o seguinte:

  1. O fêmur estudado pertencia a um indivíduo do sexo masculino.
  2. Não se identificou a presença de DNA humano em quantidades detectáveis no alguidar e na mancha da peça de alvenaria.
  3. Verificou-se a presença de DNA de origem humana ou de primata no líquido analisado. A quantidade de DNA é muito pequena e ainda não sabemos estabelecer o seu perfil genético.

Já o laudo final concluía:

1. Pelos resultados obtidos é possível afirmar com confiabilidade de 99,997% que o cadáver encontrado era de um indivíduo do sexo masculino e filho biológico do casal Ademir Batista Caetano e Maria Ramos Caetano. Podemos assim concluir cientificamente tratar-se do cadáver de Evandro Ramos Caetano, desaparecido, filho do casal.

2. Verificou-se a presença de DNA de origem humana ou de primata no bloco de alvenaria contendo mancha aparentemente de sangue em forma de mão, no líquido encontrado em um pote de barro e no alguidar de barro. As tentativas de comparação deste DNA com o DNA obtido do cadáver de Evandro Ramos Caetano não tiveram sucesso.

Em resumo, ao final do processo, o Instituto Gene não só confirmava que o corpo era de Evandro, como também declarava que havia DNA de origem humana ou primata no líquido do pote de barro e nas manchas do alguidar apreendido na casa de Osvaldo. Não era possível determinar, contudo, se o DNA era mesmo de Evandro.

Apesar de não ser possível dizer se o DNA era de Evandro, aos olhos do Ministério Público esse era um indício forte de culpabilidade, como é possível notar neste trecho da sua manifestação acerca da pronúncia dos réus, redigida pelo Dr. Antonio Cesar Cioffi de Moura (documento completo para download aqui).

 

 

LINHA DO TEMPO EM DOCUMENTOS DOS AUTOS

1. De acordo com Antonio Costa, em Maio de 1992 foi enterrado um pote debaixo da calçada da sua loja Berimbau. O empresário afirmou isso em depoimento prestado no dia 10 de Setembro de 1992.

 

2. No dia 30 Abril de 1992, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) pedia para que fossem analisados objetos e roupas encontradas no matagal onde o corpo de Evandro foi localizado. Devia se buscar por indícios de sangue.

 

 

3. Em 18 de Maio de 1992, saia o relatório de análise química dos materiais. Nada de relevante foi encontrado.

 

4. No dia 03 de Julho de 1992, foram apreendidos alguns objetos na casa de Osvaldo Marcineiro. Entre eles, havia uma “bacia de cerâmica”. Era um alguidar.

5. Também no dia 03 de Julho de 1992, foi feita uma inspeção na serraria Abagge.

 

6. Em 06 de Julho de 1992, foi feita uma busca e apreensão na casa Abagge.

 

7. No dia 07 de Julho, o carro de Beatriz Abagge foi apreendido.

 

8. Nesse mesmo dia 07, o delegado João Ricardo Kepes Noronha pedia para que a PM entregasse todo o material referente ao caso Evandro. Deste pedido é que será feito o dossiê “Operação Magia Negra“.

 

9. No dia 08 de Julho, o delegado adjunto Sidnei Martins Leal perguntava ao Instituto de Criminalística se havia indícios de sangue no alguidar encontrado na casa de Osvaldo.

 

10. Nesse mesmo dia 08 de Julho, alguns materiais apreendidos na casa de Osvaldo foram enviados ao IML. Entre eles estava o alguidar. O relatório foi concluído em 10 de Julho de 1992 e apontava a presença de sangue, mas não conseguiam determinar se era sangue humano.

 

11. Ainda em 08 de de Julho, o delegado Noronha requisitava uma nova busca e apreensão na casa de Osvaldo, na serraria e na casa Abagge.

 

12. Em 09 de Julho, Noronha requisitava essas novas buscas com peritos à juíza de Guaratuba, Anésia Edith Kowalski.

 

13. Em seguida, Noronha também pedia que o delegado Adauto Abreu entregasse todos os materiais que tinham referentes ao caso Evandro.

 

14. Também nesse dia 09 de Julho 1992, Noronha perguntava ao IML sobre possíveis instrumentos que poderiam ter causado as lesões no corpo e se as confissões condiziam com o corpo. As respostas viriam em 14 de Julho, em documento já citado no episódio 28.

 

15. Ainda neste dia, Noronha encaminha vários materiais para serem analisados no IML de Curitiba.

 

16. Após as buscas e apreensões ocorridas em 9 de Julho, várias fitas de vídeo foram coletadas na casa de Osvaldo. Entre elas, filmes de terror e o filme “Ghost”.

 

17. Também foram apreendidos vários objetos na casa da família Abagge, entre eles fitas de vídeo, agendas e bilhetes. Nenhum de grande importância.

 

18. Na serraria também foram coletados vários objetos. Nenhum de grande importância para o caso.

 

19. Por fim, ainda neste dia 09 de Julho, a mãe de Evandro cedeu várias roupas e um lençol de seu filho ao delegado Noronha.

 

20. Em 10 de Julho de 1992, mais objetos foram apreendidos da casa de Osvaldo Marcineiro. Entre eles, os cadernos de registros de seus clientes e um recorte de jornal sobre a morte de Evandro e um “papel jornal escrito em caneta esferográfica preta ‘locadora – Osvaldo MarcineiroLeandro Bossi – desaparecido – Fev/92“.

 

21. Neste dia, o subtenente Francisco Filomeno Andrade, da Polícia Militar do Paraná, entregava ao delegado Noronha alguns materiais que dizia ter coletado da serraria Abagge, além do dossiê “Operação Magia Negra” e a fita cassete contendo a “confissão” das Abagge.

 

22. Ainda em 10 de Julho, o Noronha encaminhava para perícia armas e rádios apreendidos na casa Abagge.

 

23. Também neste dia, Noronha encaminhava o carro de Beatriz para perícia.

 

24. Por fim, no dia 10 de Julho de 1992, o IML concluía o laudo de exame químico do alguidar encontrado na casa de Osvaldo Marcineiro.

 

25. Em 13 de Julho de 1992, atendendo a um pedido do delegado Noronha, um escrivão da polícia civil de nome Marcos B. do Nascimento informava que havia entrado em contato com o laboratório do FBI no Uruguai para realização de exame de DNA em alguns objetos encontrados – no caso, um facão e o alguidar apreendidos na casa de Osvaldo Marcineiro. Esse exame serviria para determinar se havia DNA de Evandro nesses materiais. O escrivão informava que, no caso do laboratório do FBI não ser capaz disso, tentaria com o Instituto GENE, de Belo Horizonte.

 

26. Quem escreveu o ofício ao laboratório do FBI em inglês foi o então delegado geral da Polícia Civil, o Dr. José Maria de Paula Correia. Em linhas gerais, pedia-se um exame de DNA em alguns objetos na serraria e na casa de Osvaldo. Deste pedido, destaca-se o seguinte trecho (traduzido): “A possibilidade de ser comparado os resultados dos testes de DNA destes materiais com o material coletado dos pais biológicos do menor Evandro vão proporcionar evidências seguras contra os acusados”. Ou seja, ao invés de pedir para que o DNA encontrado nesses materiais fosse comparado com o material obtido do corpo e guardado no cofre do IML, o Dr. José Maria perguntava da possibilidade de se fazer esse exame comparativo com o sangue dos pais de Evandro. Em outras palavras, ele pedia um teste de paternidade.

 

27. Em 16 de Julho de 1992, as químicas legais do IML de Curitiba, as Dras. Maria Regina Sawaya Rolim e Maria Cristina Sawaya Nowak, afirmavam em caráter de urgência que a mancha encontrada num pedaço da parede do escritório da serraria Abagge era de sangue humano. Nos autos, não é clara a data exata de apreensão deste pedaço de parede.

 

 

28. Em 22 de Julho de 1992, o laboratório do FBI informa que antes de responder se seria capaz de fazer exames de DNA nos materiais apreendidos, teria que analisá-los. Além disso, afirmavam que não tinham condições de conduzir um teste de paternidade como era requisitado pelo delegado geral. Por conta disso, recomendavam alguns especialistas em DNA brasileiros que poderiam conduzir esse teste.

 

29. Em 29 de Julho de 1992, o delegado Noronha informa ao IML de Curitiba que estão levantando dúvidas sobre a identidade do corpo encontrado em Guaratuba no dia 11 de Abril de 1992. Por conta disso, pergunta sobre a possibilidade de um teste de DNA no corpo. É a primeira vez que oficialmente se pede um exame de DNA para identificação do corpo. Noronha é genérico em suas afirmações, então não é possível dizer nem da onde nem como tais dúvidas estavam aparecendo. Contudo, é provável que elas viessem de indagações feitas pelo então delegado de Guaratuba, o Dr. Luiz Carlos de Oliveira.

 

30. Em 30 de Julho de 1992, o delegado geral José Maria de Paula Correia entrava em contato com o Dr. Sérgio Danilo Pena, do Instituto GENE, perguntando se ele teria condições de realizar os testes necessários (exames de DNA dos materiais e teste de paternidade). Desta vez, cita que há partes do corpo que estão guardadas no cofre do IML de Curitiba.

 

31. Neste mesmo dia, saia relatório final de perícia do IML no pedaço de alvenaria da serraria e outros objetos.

 

32. Em 31 de Julho de 1992, o IML informava que não havia encontrado sangue em nenhum outro material analisado.

 

33. Em 03 de Agosto de 1992, a PCPR e o IML de Curitiba ponderavam alternativas de laboratórios para realização dos exames de DNA, tanto nacionais quanto internacionais, ponderando sobre prós e contras. Pelo teor do documento, percebe-se que o Instituto GENE seria o mais adequado.

 

34. Neste mesmo dia, o Instituto GENE respondia ao ofício da PCPR, informando que seria sim capaz de fazer os exames requisitados. Lista assim quais os materiais que considera os ideais para a realização dos exames e informa que o custo do procedimento sairia em torno de Cr$ 18 milhões de cruzeiros “sujeitos a reajustes”.

 

35. Em 12 de Agosto de 1992, Luiz Carlos de Oliveira informa que teria recebido um telefonema anônimo no qual lhe diziam que o corpo encontrado poderia ser o de Leandro Bossi. Por causa disso, requeria um exame de DNA do corpo encontrado com a família Bossi.

 

 

 

36. No dia 13 de Agosto de 1992, o promotor Antonio César Cioffi de Moura fazia um pedido de busca e apreensão na calçada em frente à loja “Berimbau”, cujo dono era Antonio Costa, um amigo de Osvaldo e frequentador dos terreiros da cidade. De acordo com o promotor, ele teria recebido informações de que haveria algum material relevante ao caso enterrado lá.

 

 

 

37. Apesar de não citar em seu ofício, o Dr. Cioffi obteve essa informação de Diógenes Caetano dos Santos Filho, que havia prestado depoimento naquele dia.

Trecho do depoimento de Diógenes, prestado no dia 13 de Agosto de 1992, citando sobre “uma caixinha” enterrada em frente à loja de Antonio Costa.

 

 

38. Na madrugada do dia 14 de Agosto de 1992, o Dr. Luiz Carlos de Oliveira, acompanhado de outros policiais, quebraram a calçada na frente da loja de Antonio Costa. A 20 centímetros de profundidade, encontraram um pote lacrado contendo vários objetos e um líquido vermelho.

 

39. Em 21 de Agosto de 1992, o então diretor geral do IML de Curitiba, José Marcos Parreira, enviava ofício ao Instituto GENE de Belo Horizonte informando os materiais que pretendia enviar para lá. Desta vez, inclui o líquido vermelho (item 11) e fragmento da massa que era usada para lacrar o pote (item 12).

 

 

 

40. Em 25 de Agosto de 1992, o Instituto GENE afirmava ter recebido os materiais. Também informava quais achava mais adequados para a realização dos exames.

 

 

41. No dia 14 de Outubro de 1992, o departamento de química legal do IML de Curitiba concluía seu relatório de análise do pote de barro. Sua conclusão aponta que detectou a presença de sangue no líquido vermelho encontrado, mas que não foi possível detectar proteína humana. Ainda assim, apontam que somente um teste de DNA (que é mais preciso) poderia determinar isso ou não com maior certeza.

 

42. Em 07 de Novembro de 1992, o primeiro laudo preliminar de exame de DNA foi concluído pelo Instituto GENE. Nele, apontava-se que quem teria enviado os materiais seriam levados de Curitiba pelo delegado João Ricardo Kepes Noronha e pelas químicas legais Maria Regina Sawaya Rolim e Maria Cristina Sawaya Novak.

 

 

 

43. Em 28 de Março de 1996, as defesas faziam uma série de questionamentos sobre é que o material foi coletado, como que o procedimento foi pago etc.

 

44. Em 13 de Janeiro de 1997, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná explicava como foi o procedimento de obtenção dos recursos financeiros para realização dos testes, assim como apresentava as ordens de pagamento ao Instituto GENE. No total, foram pagos Cr$ 18.800.00,00 em duas parcelas.