Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 33

DOSSIÊ X

No processo do caso Evandro há um anexo chamado “Dossiê X”, que não foi notado por um bom tempo após as prisões. Quem o mencionou pela primeira vez foi o advogado de defesa Figueiredo Basto, que na ocasião chegou a dizer que a promotoria estaria escondendo materiais do processo. Essa afirmação nunca teve grandes consequências, já que a acusação alegava que esses documentos não eram secretos, e que só foram anexados depois porque o próprio Grupo TIGRE teria demorado a entregá-los. Por ser parte do Volume 10, é que vem a letra X no título do registro.

Entre vários relatórios, o Dossiê X possui fichas criminais de potenciais suspeitos que moravam no litoral do Paraná na época do crime e que teriam histórico de homicídio ou de doenças mentais, por exemplo. A maioria desses nomes nunca gerou grandes linhas de investigação. É consenso que a operação do Grupo Águia da Polícia Militar contaminou o trabalho dos investigadores do Tigre e impediu que informações importantes sobre o caso fossem levantadas.

Por isso, a ideia desse episódio é falar sobre as testemunhas e os suspeitos que mais tiveram a atenção da Polícia Civil, antes da confusão gerada pela prisão das Abagge e dos outros cinco acusados. Essa discussão parte do princípio de que os sete são inocentes e de que o corpo encontrado no matagal é de fato de Evandro.

 

O PRIMEIRO SUSPEITO: JUAREZ JOSÉ DA SILVA

O primeiro suspeito preso pela morte de Evandro foi um homem chamado Juarez José da Silva, também conhecido como “Cheiro”. A prisão dele teve como base o depoimento de uma mulher prestado à Divisão de Segurança e Informações (DSI) de Curitiba em 14 de abril de 1992, três dias após o corpo do menino ser encontrado no matagal.

Na ocasião, Maria Aparecida Ferreira de França Albuquerque relatou uma situação estranha que ocorreu com os dois filhos, Fernando Ferreira França, de 11 anos, e Cleyton Everson Ferreira França, de 10. Segundo ela, em uma data próxima ao sumiço de Evandro, os garotos foram seguidos por um indivíduo desconhecido no caminho para a Escola Municipal Olga da Silveira, onde estudavam. De acordo com a descrição das crianças, o homem era moreno, magro, e tinha cabelos longos e ondulados, bigode e barba comprida. Ele aparentava ter aproximadamente 1,75 m de altura.

No depoimento ao delegado João Ricardo Kepes Noronha, Maria disse que a princípio não se preocupou muito com o episódio, mas posteriormente se lembrou do desaparecimento e assassinato do menino Evandro. Por isso, julgou importante repassar o acontecido à polícia.

Ela afirmou que as características do homem descritas pelos filhos correspondiam com a aparência de um traficante chamado “Cheiro”, que era morador na região do Carvoeiro, mesma área onde o cadáver foi achado. Maria falou que esse rapaz era conhecido por ser “bem xarope” quando estava sob efeito de drogas. Para ela, a perseguição aos filhos, os antecedentes de “Cheiro” e o local onde ele residia eram sinais que indicavam que ele poderia ser o assassino de Evandro.

Com a ajuda dos irmãos França, a polícia elaborou um retrato falado do suspeito. Esta ilustração foi realizada provavelmente entre os dias 14 e 16 de Abril de 1992 e serviu para a confecção do cartaz abaixo.

 

No desenho, vê-se um homem cabeludo e barbudo. Essa imagem foi por um bom tempo uma das principais fontes de investigação do Grupo TIGRE. Ela estampava um cartaz que dizia que o indivíduo tinha cerca de 30 anos e costumava oferecer doces e dinheiro para crianças.

Após as prisões dos sete acusados, o retrato foi usado pelo Grupo ÁGUIA para justificar a prisão de Osvaldo Marcineiro, que também parecia se encaixar nas características descritas. Outras pessoas em Guaratuba, no entanto, apresentavam semelhanças com o desenho, como era o caso de Juarez José da Silva, vulgo “Cheiro”.

O relatório inicial da Polícia Civil elaborado após o depoimento de Maria apontava que Juarez não era visto pela cidade há cerca de 10 dias. Além disso, o documento afirmava que ele era conhecido na comunidade por ser traficante de cocaína e que muitas pessoas acreditavam que o rapaz poderia ser o assassino de Evandro.

Com base nessas informações e na semelhança com o retrato falado, a polícia pediu a prisão temporária do suspeito, que foi decretada pela Justiça no dia 16 de abril de 1992. No mesmo dia, o então delegado titular de Guaratuba, Gilberto Pereira da Silva, ouviu os depoimentos dos irmãos França e do próprio Juarez.

 

DEPOIMENTO DOS IRMÃOS FRANÇA

Segundo o relato de Cleyton, de 10 anos, o estranho episódio de perseguição ocorreu dias antes do desaparecimento de Evandro. Ele contou que caminhava com o irmão em direção ao colégio quando, no começo da Vila Esperança, os dois perceberam a presença de um homem moreno, barbado e de bigode. O rapaz começou a incomodá-los com perguntas e lhes ofereceu bala e dinheiro.

Perto da escola, as crianças rapidamente combinaram de despistar o estranho, correndo por uma rua nos fundos da vila e seguindo para o colégio em seguida. Os meninos se esconderam e notaram que, enquanto isso, o homem ficou procurando por eles. Assim que chegaram na escola, eles viram que o rapaz foi embora em direção à região de Piçarras ou do Carvoeiro.

O depoimento de Fernando, de 11, anos é parecido, com apenas algumas informações extras. Ele acrescentou que o caso aconteceu por volta das 13h e que os dois não aceitaram nada do que o homem ofereceu. O garoto relatou ainda que, depois da aula, ambos voltaram para casa junto com um vizinho e contaram tudo para a mãe, Maria. Aquela teria sido a primeira vez que Fernando viu o estranho nas imediações.

 

DEPOIMENTO DE JUAREZ

Após ouvir as crianças, o delegado Gilberto tomou o depoimento de Juarez. O suspeito negou que tenha perseguido as crianças a caminho da escola ou que tenha lhes oferecido bala ou dinheiro. Segundo ele, nada disso aconteceu.

“Cheiro” afirmou que trabalhava todos os dias como marceneiro e que era viciado em maconha, mas comprava a droga com o salário que recebia. Ele também falou que fazia mais de oito dias que havia cortado a barba, que estava bastante grossa na ocasião.

Questionado sobre a morte de Evandro, Juarez respondeu que estava trabalhando na ocasião do crime e que jamais praticou nenhum delito dessa natureza. Ele mencionou que conhecia o pai da vítima, Ademir Caetano, e que chegou a ser vizinho dele na época em que morava com o patrão Edésio da Silva, em frente ao Estaleiro do Português.

O relato de Juarez é curto, mas alguns detalhes chamam a atenção. O primeiro é que o delegado Gilberto dispensou o detido como potencial suspeito. Os motivos pelos quais ele chegou a essa conclusão não são claros no inquérito. Em um breve ofício de 20 de abril de 1992, o investigador dá a entender que os irmãos França não reconheceram Juarez como o homem que os perseguiu a caminho da escola.

Ao citar a acareação feita com as crianças, o delegado não deixa claro, porém, se o suspeito foi ou não colocado na frente dos meninos para ser identificado. Além disso, durante os cinco dias em que Juarez ficou preso, não há qualquer registro de que a polícia tenha interrogado outras pessoas para verificar o álibi do detido. Se isso aconteceu, não foi mencionado em nenhum documento.

O segundo elemento intrigante é o seguinte: esse depoimento é a primeira vez que Edésio é citado no inquérito. O então patrão de Juarez foi uma das principais testemunhas da acusação, ao alegar em agosto de 1992 que teria visto Beatriz e Celina Abagge sequestrando Evandro na manhã de 6 de abril. E esse é um ponto onde tudo fica ainda mais estranho. Afinal, se ele afirmava com tanta convicção que elas eram culpadas, isso significaria não apenas que ele passou meses sem contar nada à família da vítima ou aos policiais, como também viu um amigo e funcionário ser preso pelo crime e não abriu a boca. Tudo isso reforça a impressão de que o relato de Edésio pode ser um caso de memória falsa.

De qualquer forma, de um mero figurante, em poucos meses Edésio da Silva passou a ser um dos personagens mais importantes de todo o caso. Enquanto isso, Juarez foi simplesmente ignorado para sempre, sem grandes justificativas.

 

ELI GONÇALVES DA SILVA

A partir desse ponto, algumas perguntas são importantes para guiar as próximas discussões: o que o Grupo TIGRE sabia sobre a maneira como Evandro sumiu? Os policiais direcionaram o foco para um tipo de suspeito específico?

Nos primeiros dias após o desaparecimento de Evandro e a descoberta do corpo, surgem duas testemunhas que podem ser consideradas as mais importantes de todo o caso. A primeira delas é um adolescente de 16 anos de idade, chamado Eli Gonçalves da Silva. Ele prestou depoimento ao delegado Gilberto em 14 de abril de 1992.

Na ocasião, ele relatou o encontro que teve com uma criança misteriosa no dia 7 de abril, um dia depois do sumiço de Evandro. O jovem disse que caminhava por volta das 19h perto da Escola Joaquim Mafra, no bairro Canela, quando um menino que aparentava ter sete anos de idade apareceu. O garoto era moreno, tinha cabelo liso e meio longo, e vestia roupas sujas. Ele passou a acompanhar o adolescente pela rua e, durante o trajeto, contou uma história no mínimo estranha.

A criança falou que ela e outros colegas haviam sido abordados por um homem que conduzia uma carroça, convidando o grupo para ir até um posto de gasolina para comprar botijão de gás. Eles então embarcaram junto com o carroceiro, que os levou para um lugar desconhecido em direção à praia. Os meninos teriam ficado presos em uma casa, onde havia uma espingarda e algumas roupas em cima da cama. O garoto relatou que ele e outra vítima conseguiram fugir da residência quebrando os vidros das janelas, enquanto um garoto loiro teria permanecido no local. Ele comentou ter ouvido o carroceiro dizer que levaria essa criança loira para outra localidade no dia seguinte às 11h.

DOWNLOAD Depoimento Eli Gonçalves da Silva (14 de Abril de 1992)

De acordo com Eli, que ouvia atentamente a história, assim que passaram pela frente da casa da família de Evandro, a criança entrou ali pelo portão. Em seguida, o adolescente seguiu para o colégio onde estudava e, ao retornar da aula, contou aos pais o que havia acontecido. Eli ressaltou que nunca tinha visto aquele garoto antes na região.

A primeira dúvida que passa pela cabeça de quem lê esse relato é: seria Evandro a criança loira que havia ficado presa na casa? Seria o carroceiro o assassino de Evandro? E quem era o garoto misterioso? Teria ele realmente entrado na casa da família Caetano?

Em relatório, o policial Blaqueney Murilo Iglesias, do grupo Tigre, cita o depoimento de Eli e informa que os investigadores passaram a sair com o adolescente para vários pontos de Guaratuba com o objetivo de encontrar a criança com quem ele tinha conversado. Mais tarde, no entanto, o pai do jovem passou a proibir essas saídas, alegando que ele poderia ficar doente.

A atitude do pai de Eli é frustrante, mas é importante também colocá-la em contexto. Pais e mães estavam apavorados com o que havia acontecido com Evandro e Leandro Bossi. Boatos sobre uma seita satânica, em que policiais e políticos poderiam estar envolvidos, já circulavam por Guaratuba. Passear pela cidade para identificar a criança misteriosa poderia ser uma exposição indesejada. No fim, restou apenas um retrato falado que Eli ajudou a produzir sob hipnose, junto ao Instituto de Criminalística.

 

Apesar dos esforços da polícia e da população nas buscas, o menino descrito pelo jovem nunca foi encontrado. Em depoimento no júri de 1998, a delegada Leila Bertolini sugeriu a possibilidade do adolescente ter fantasiado os fatos, sem dar muitos detalhes ao que exatamente fundamentaria essa impressão.

Pelos documentos policiais, é possível notar uma linha de investigação se formando: o suspeito poderia ser um carroceiro ou um andarilho, com as mesmas características físicas divulgadas pelo cartaz e retrato falado elaborados com o apoio dos irmãos França. Nesse contexto, a criança que conversou com Eli seria uma potencial vítima desse homem, que conseguiu fugir a tempo.

Para resgatar essas informações, Ivan Mizanzuk tentou contato por meses com Eli por meio de uma rede social, enviando inclusive o depoimento e o retrato falado feitos na época. A então testemunha, no entanto, não respondeu os pedidos para uma conversa e até mesmo bloqueou Mizanzuk – que entende o lado de Eli de não querer reviver esse momento.

 

 

RACHEL MACHADO DUARTE

A segunda testemunha considerada chave no caso Evandro é Rachel Machado Duarte, de 17 anos. Ela aparece pela primeira vez em um relatório da Polícia Civil do dia 19 de abril de 1992. Enquanto o relato de Eli pode ser questionável, o da adolescente aparenta ser mais sólido.

Rachel trabalhava como empregada doméstica para uma mulher chamada Silmari, que morava perto da casa da família Caetano. Segundo os registros, ela estava na residência da patroa quando viu Evandro passar na rua junto com outras duas crianças na manhã do dia em que ele desapareceu.

O primeiro depoimento oficial de Rachel é de 24 de junho de 1992, mais de dois meses após o crime. Na ocasião, a mãe da jovem a acompanhava e conduzia boa parte das suas falas. Anos mais tarde, em 1998, ela prestou testemunho durante o júri das Abagge.

Em resumo, a adolescente disse que conhecia Evandro há cerca de um ano, e que sabia que ele estudava na Escola Olga Silveira, no bairro Cohapar, e costumava brincar próximo do colégio. Evandro inclusive era amigo dos irmãos de Rachel e já havia os visitado na casa dela. Por isso, ela também conhecia a família Caetano de vista.

Em depoimento, a jovem conta que, entre as 10h e 11h do dia 6 de abril de 1992, olhava pela janela da residência de Silmari quando percebeu que Evandro caminhava na rua com mais dois meninos, que aparentavam ter a mesma idade que ele. O primeiro era moreno claro, de cabelo curto puxado para trás, e trajava calção e camiseta. O segundo ela descreveu apenas como um garoto loiro, que vestia uma bermuda. Evandro também usava calção e camiseta, mas Rachel não sabia dizer as cores exatas das roupas. Um deles estava descalço, enquanto os outros dois – inclusive a vítima – usavam chinelos. Ela se recordava ainda de tê-los visto chutando uma bola pelo caminho.

Ainda de acordo com o depoimento, depois que a jovem chegou em casa, a mãe dela perguntou se ela se lembrava do menino Evandro e relatou que ele havia sumido naquele dia. Foi aí que Rachel contou o que tinha visto pela manhã. Mais tarde, policiais pediram a ajuda da adolescente para procurar o garoto desaparecido e as crianças que o acompanhavam. No entanto, nada foi encontrado e os dois garotos nunca mais foram vistos na região.

Se esses depoimentos estão corretos, Eli e Rachel seriam as testemunhas mais importantes do caso Evandro. Ambos falam sobre crianças misteriosas em relatos bem próximos. Porém, se a delegada Leila Bertolini estava certa sobre a possibilidade de Eli ter fantasiado o que contou aos policiais, é provável que ele tenha sido influenciado pelas informações de Rachel, que foram divulgadas antes pela mídia.

Se o relato de Eli é ou não fruto de memória falsa, uma pergunta é inevitável: será que um dos dois garotos que Rachel diz ter visto ao lado de Evandro seria parecido com o menino misterioso que Eli descreveu para a confecção do retrato falado? O promotor Celso Ribas fez esse questionamento a ela no júri das Abagge, em 1998. Na ocasião, a jovem respondeu que as características do retrato falado não correspondiam com nenhuma das crianças vistas com Evandro.

Existe a possibilidade de que a memória de Rachel tenha se alterado com o passar dos anos, então a negativa para a identificação do retrato não significa necessariamente uma porta fechada para o caso.

Em um dos relatórios sem data do Grupo TIGRE, no qual há uma série de nomes de possíveis suspeitos, existe a menção a um garoto que Rachel teria identificado. Essa criança, no entanto, disse que não estava na companhia de Evandro na ocasião do desaparecimento. Como os pais dela também foram ouvidos pela polícia, pode ser que eles estivessem tentando protegê-la ao negar os fatos.

No fim, a principal questão que fica é: as declarações de Rachel, Eli e dos irmãos França contam a mesma história ou são peças de quebra-cabeças diferentes? Infelizmente, essa pergunta não tem uma resposta concreta. As prisões dos sete acusados em julho de 1992 enterraram qualquer possibilidade dessas investigações prosseguirem.

Independente disso, tudo parecia apontar para um tipo específico de suspeito: um homem barbudo, provavelmente um carroceiro.

 

 

JOÃO PASSOS E ROBERTO PONTES

No Dossiê X, há uma página com fotos de homens considerados suspeitos no caso. Um deles era João Passos, mais conhecido pelo apelido de “Baio”. Ele era carregador de areia, analfabeto, e tinha 49 anos de idade.

 

Os eventos que levam João Passos “Baio” a entrar no radar dos investigadores aconteceram depois da descoberta do corpo. Na época, policiais conversaram com alguns moradores que habitavam a área do matagal onde o cadáver foi achado. Os investigadores ficaram sabendo que, em uma data próxima, pessoas foram vistas ali roçando o mato e levando uma carreta.

Um desses moradores era Euclídio Soares dos Reis, frequentemente referenciado como Euclides por outros moradores e policiais. Ele também tinha um apelido: “Barba”.

Euclídio foi um dos primeiros a avistar o corpo no mato no dia 11 de abril. Dois madeireiros que faziam obras na região, Lázarao Machetti e Daniel Miranda, acharam o cadáver e logo depois foram até a casa de Barba ali perto para pedir ajuda.

Em depoimento no dia 20 de abril, Barba citava Baio como um dos roçadores avistados por ele na região. O outro seria Roberto Pontes, carroceiro, filho de um homem conhecido pelos moradores como “Maloca”. Por causa disso, Pontes era frequentemente chamado de “filho do Maloca”.

A história do suspeito João Passos é a seguinte: ele devia dinheiro a um bar da cidade. O dono do estabelecimento, Waldir Sales, comprou um terreno no dia 26 de março de 1992 e precisava de alguém para cercá-lo com varas. Para isso, aproveitou que Baio lhe devia dinheiro e pediu ajuda para ele. Em troca, Sales pagaria pelo serviço, deduzindo da conta do devedor.

Passos teria ido ao terreno em um sábado, provavelmente no dia 28 de março, de acordo com ele. Essa área com as varas ficava no matagal onde o corpo seria encontrado dias mais tarde. Baio disse que cortou o material, pegando inclusive emprestado o machado de Euclídio, que o conhecia. Ele então avisou o dono do bar que o serviço estava feito, e que sabia de um homem que tinha uma carreta e poderia carregar as varas. Essa pessoa era Roberto Pontes, o filho do Maloca. Segundo depoimentos prestados por Baio e Pontes, Sales aceitou a oferta e o carregamento aconteceu na semana seguinte – ao que tudo indica, na terça-feira.

É nesta sequência de eventos que divergências começam a transformar Baio em um potencial suspeito. Primeiro, vários moradores diziam que ele não foi apenas uma vez lá no matagal, em um sábado, como afirmava em depoimento. Além disso, a delegada Leila e outros investigadores do Tigre também notavam atitudes que consideravam esquisitas tanto em João Passos quanto em Roberto Pontes.

No júri de 1998, a delegada afirmou que, 15 dias após o corpo ser encontrado, a polícia achou as sandálias (chinelos) da vítima, sendo que uma delas havia caído no riacho e ficado descaracterizada como prova. Ela mostrou o calçado para Baio, que ficou “muito nervoso e apavorado” e não olhava para o objeto. Já em relação ao “filho do Maloca”, a investigadora comentou que ele foi levado até o local onde o cadáver estava e, bastante agitado, tentou fugir.

Chamado para depor logo após o achado do corpo, ainda em abril de 1992, Roberto chegou a ser questionado sobre o motivo da tal tentativa de fuga. Ele se justificou dizendo que teria tentado subir no seu cavalo para voltar para casa, mas caiu, e ficou com muita vergonha. Como havia várias pessoas no local, ele decidiu ir embora mais rápido.

Todos os relatos que levantavam suspeitas sobre Baio e Pontes foram feitos entre 19 e 25 de abril de 1992. Depois disso, não há mais informações que pudessem incriminá-los ou pelo menos sustentar maiores suspeitas.

Nesse sentido, é compreensível a frustração da família de Evandro. A sensação que se tem é de que o Tigre investigou muita coisa nos primeiros 20 dias. A partir do fim de abril, porém, há cada vez menos materiais a serem adicionados no inquérito.

No início de julho, a operação Magia Negra do Águia prendia os sete acusados, o que, como sabemos, mudou completamente o rumo das investigações e deixou informações valiosas para trás.