Extras Episódio 04
1990 – ELEIÇÕES PARA GOVERNADOR DO PARANÁ
No primeiro turno os dois candidatos favoritos são José Carlos Martinez e José Richa, pai de Beto Richa (governador do Paraná até 2018). Outro candidato que também fazia campanha era Roberto Requião, apontado como sucessor pelo PMDB do governador da época Álvaro Dias. Em um programa de televisão, Aníbal Khury, conhecido por comandar a política do Paraná de verdade, apostava na vitória de José Richa e com isso Aníbal acirrou os ânimos com Roberto Requião.
Ao contrário do que era esperado por analistas da época, Requião cresceu rapidamente nas pesquisas, o que passou a assustar seus adversários. Jaime Lerner, prefeito de Curitiba na época, pedia votos para José Richa.
Requião teve larga vantagem em relação ao candidato José Richa e foi para o segundo turno com José Carlos Martinez, que ainda era o favorito a vencer.
Na última semana de campanha, Requião solta uma bomba em sua propaganda eleitoral, surgindo aqui o famoso “Caso Ferreirinha”. Requião cedeu espaço no seu programa eleitoral para um homem chamado João Ferreira, que se apresentou como matador a serviço da família Martinez. Essa revelação foi suficiente para eleger Requião que posteriormente teve o mandato cassado antes de assumir, num processo que acabou arquivado quatro anos depois. Numa matéria do site Bem Paraná encontramos a seguinte informação: “O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) reconheceu que o governador licenciado praticou crime eleitoral na época e cassou o mandato dele em primeira instância. A evidência mais grosseira da fraude foi a idade do suposto Ferreirinha que teria apenas cinco anos quando os supostos assassinatos que ele dizia ter cometido aconteceram. Requião recorreu da decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e conseguiu se segurar no cargo até o final do mandato.” (Fonte: Bem Paraná)
Numa entrevista para dois jornalistas da emissora ÓTV, Fábio Campana admite ter sido o responsável pela criação da figura do Ferreirinha, ele acreditava que o personagem daria melhor visibilidade para uma situação que era verdadeira, com testemunhas reais que confirmaram tudo o que foi relatado no programa eleitoral contra o deputado José Carlos Martinez e toda a empresa da família. Fábio afirma que Requião não sabia que a figura de Ferreirinha era armação.
1991-1994 – GESTÃO DE REQUIÃO E O DESAPARECIMENTO DAS CRIANÇAS
O clima político na época era conturbado e turbulento. Requião foi eleito governador do Paraná pela primeira vez em 1990 e devemos lembrar que ele já possuía atritos com Aldo Abagge que por sua vez era muito próximo de Aníbal Khury, outro desafeto de Requião. Requião cumpriu seu mandato entre 1991 e 1994, exatamente no período que os jornais noticiavam os frequentes casos de crianças desaparecidas no Paraná e também que o caso popularmente conhecido como “As Bruxas de Guaratuba” aconteceu e que envolvia Aldo Abagge, um dos seus desafetos políticos.
Alguns conspiracionistas chegam a acreditar que Requião esteve envolvido na acusação das Abagge no assassinato, o que é difícil de se confirmar. Mas é possível perceber que Requião usou o caso para passar uma imagem de eficiência da sua gestão – e esse é um dos motivos pelos quais, diversas vezes, as defesas dos julgamentos vão explorar esse lado político, para jogar com a ideia que a prisão das Abagge e dos outros cinco acusados teriam sido feitas muito mais como palanque político do que por comprovação de fatos.
Diógenes teria armado um esquema desse tamanho por motivações políticas? Ele concorreu a vereador em 1992, perdeu e não se envolveu mais com política ou se tentou teve uma atuação tão modesta que não chegou a avançar. Porém três fatos são certos: havia escândalos e tensões enormes na política paranaense; havia pânico e sentimento de urgência para encontrar a solução para algum caso de criança desaparecida (e o caso de Guaratuba chamou muita atenção na imprensa nacional e até na internacional); e que Diógenes aparentemente acredita em tudo que fala.
Ainda assim, em seu livro “A Verdadeira História do Caso Evandro“, Diógenes Caetano dos Santos Filho parece se contradizer dos depoimentos prestados em júri, quando afirmava que não tinha intenções de concorrer à prefeitura de Guaratuba nas eleições de 1990. Nas suas próprias palavras, por um período de tempo, durante a publicação dos seus panfletos contra a administração de Aldo Abagge, essa era uma possibilidade bastante plausível.
DOWNLOAD DA DENÚNCIA DE DIÓGENES
DOWNLOAD DOS PANFLETOS DE DIÓGENES
Um argumento final para dizer que Diógenes talvez esteja longe de ser um grande conspirador está na leitura dos documentos que o mesmo apresentou na sua denúncia, prestada ao Ministério Público do Paraná no dia 29 de Maio de 1992. Nela, ele concentra grande parte da sua denúncia em Antônio Costa, que era muito próximo de Osvaldo Marcineiro e outros umbandistas da cidade, sendo que Antônio nunca foi preso. Por outro lado, na denúncia não consta os nomes de Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli, que foram presos pelo Grupo ÁGUIA em julho de 1992.
Nas partes em que a denúncia fala sobre Osvaldo Marcineiro, dois eventos se destacam: a tal previsão que ele teria feito sobre “uma grande tragédia que aconteceria em Guaratuba”; e também sobre a noite que ele teria supostamente levado os tios de Evandro (Davina Correia Ramos Pikcius e Mario Pikcius) a um matagal dizendo sentir certas energias por lá, dias depois o corpo de Evandro seria encontrado nesse mesmo local. Osvaldo nega que tais eventos tenham acontecido mas é o que consta na denúncia. Essa história foi relatada com mais detalhes pela própria Davina num depoimento que foi prestado em 19 de Junho de 1992.
DOWNLOAD DO DEPOIMENTO DE DAVINA
Ainda na denúncia de Diógenes, ele cita uma vidente de Guaratuba chamada Estir (chamada por Diógenes de “ASTIR” ou “STIER”), sogra de Davi dos Santos Soares, um dos sete acusados. Antes de Evandro desaparecer, Estir teria ido à casa da família de Evandro e profetizado para Maria Caetano que “uma jóia preciosa ia ser retirada da casa dela, ia fazer doer demais o coração dela e que ela ia ficar muito triste”. Depois que encontraram o corpo de Evando, Estir volta na casa dos Caetano e confirma que essa era a jóia da visão que ela teve. A dúvida que fica aqui é: porque Astier também não foi presa, considerando que a prisão do Osvaldo teve como base previsões feita por ele? As defesas sempre argumentaram que não houve verificação ou investigação e que foi tudo uma armação de Diógenes.
Mas será que realmente Diógenes é uma mente brilhante que conseguiu armar e incriminar todo os acusados sem levantar muitas suspeitas?
2005 – JULGAMENTO DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI E AIRTON BARDELLI
Neste julgamento, Diógenes conta a sua versão dos acontecimentos do dia 15 de fevereiro de 1992. Era o dia do show de Moraes Moreira em Guaratuba – local e data nas quais desapareceu o menino Leandro Bossi, dois meses antes de Evandro. Fisicamente, Leandro era muito parecido com Evandro (ambos loiros, perto dos sete anos de idade).
De acordo com Diógenes, no dia 15 de Fevereiro de 1992, ele estava no show do do Moraes Moreira em Guaratuba, marcado para começar às 21:00, com a esposa e os três filhos. Apesar do cansaço, o casal aguentou esperar por mais um tempo, mais ou menos até as 22:00, quando supostamente Francisco Sérgio Cristofolini teria chegado com a sua moto no local e permanecido lá, acelerando o veículo com o farol ligado. Diógenes e família teriam se irritado e resolveram ir embora, até perceberem que Cristofolini, que havia chegado lá sozinho, estaria indo embora e levando na garupa de sua moto uma das crianças que ali brincavam. O menino seria Leandro Bossi, a primeira criança desaparecida em Guaratuba.
Cristofolini teria seguido em direção ao norte, a Praia das Caieiras. A cinco metros de distância, de acordo com o relato de Diógenes, Airton Bardelli estaria com o seu carro, estacionado também em direção ao norte, e do lado dele, no banco passageiro, estaria Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira. Assim que Cristofolini saiu, Airton também teria saído com o seu carro atrás.
Neste júri de 2005, Diógenes relatou também que o repórter Gladimir Nascimento fez, depois da prisão dos acusados, uma série de reportagens investigativas. Numa delas, entrevistou um menino que estava brincando com Leandro Bossi naquele dia do show. O amigo de Leandro afirmou que essa ocasião foi a última vez que ele viu Leandro.
O repórter também teria conseguido uma fita de confissão de Osvaldo Marcineiro, dizendo que eles realmente sequestraram Leandro Bossi no show, que Leandro Bossi teria sido pego por Cristofolini, levado até a Praia das Caieiras, que lá ele teve o pescoço cortado, tirado dois litros de sangue e que, depois disso, seu corpo teria sido jogado no mar.
Nem as matérias de TV nem a tal fita de confissão foram encontradas nos autos do Caso Evandro. Quando procurado, o jornalista preferiu não falar sobre o caso. Dado a gravidade da suposta confissão gravada ela deveria estar nos autos mas ela também não está lá.
Contudo, nos autos do processo há termos de acareações datilografados, contendo depoimentos de alguns dos acusados de terem sequestrado Leandro Bossi. Essas declarações datam do dia 11 de Julho de 1992, ou seja, 10 dias após terem sido presos. Nessas acareações, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira confirmam que sequestraram e sacrificaram Evandro. Davi dos Santos Soares relata que só ouviu esses dois comentarem sobre isso já na prisão, mas que não participou. Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli negam. Por conta dessas declarações obtidas enquanto eles já estavam presos, o delegado Luiz Carlos de Oliveira vai até o presídio do Ahu (em Curitiba) para conversar com os presos, já que ele estava investigando o caso de Leandro Bossi.
O caso do desaparecimento de Leandro Bossi é um dos maiores mistérios dessa trama toda e também envolve a suposta tentativa do delegado Luiz Carlos de Oliveira, que investigava o caso do desaparecimento de Leandro, a pedir para que os pais de Evandro falassem que o corpo que reconheceram não era do seu filho.
Diógenes acredita que os acusados teriam matado mais crianças além de Evandro e sempre que cita isso gera-se uma onda de mal-estar e desconfiança.
No final desse depoimento um dos advogados de defesa acusa Diógenes de caluniar Cristofolini com essas acusações.
Diógenes diz que os acusados mataram diversas crianças, talvez mais de 20 e até mesmo recém-nascidos.
Apesar de aparentemente ter uma excelente memória, Diógenes não consegue dar respostas precisas em momentos cruciais para a investigação. Assim, é possível imaginar o quanto era frustrante para o Grupo TIGRE trabalhar com um informante feito ele. Essa característica de Diógenes o torna um alvo fácil para os advogados de defesa. A informação sobre Celina ter matado mais de 20 crianças não consta em nenhum momento nos autos e, ao ser questionado, Diógenes consegue desviar o assunto e qualquer insistência é infrutífera.