5 – Sobre Serendipidades
20 de dezembro de 2016Muitas vezes, os heróis estão tão próximos que nem os notamos.
Produzido por Joviana Marques.
Apresentado por Ivan Mizanzuk.
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Transcrição
Ivan (narração): Olá, pessoal. Aqui é Ivan Mizanzuk, do Projeto Humanos. Histórias reais sobre pessoas reais. Este é o quinto episódio da nossa terceira temporada, O que faz um herói. Uma temporada totalmente produzida pelos novos membros do Projeto Humanos. Hoje, vocês vão conhecer mais um, ou melhor, uma. E antes de começarmos, eu gostaria de agradecer imensamente a todos os novos patrões e patroas do Anticast, que estão contribuindo com o que podem mensalmente para este programa. Graças a vocês, a quarta temporada do Projeto Humanos, que já está em pré produção, deverá acontecer normalmente. E como eu prometo sempre, vai valer a pena. E se você ainda não é patrão ou patroa e deseja nos ajudar, acesse anticast.com.br/sejapatrão e contribua com o que você puder. Sua ajuda será muito bem vinda, e eu serei eternamente grato. A história que vocês ouvirão hoje foi produzida por Joviana Marques, e ela nos mostra que, às vezes, os heróis estão tão próximos que a gente mal consegue ver.
Joviana: Você lembra, vó, a última coisa que você falou com o vô, antes dele ir embora?
Voz: Falei… Eu lembro, eu falei com ele, “Não vai lá fora. Isso aí é cachorro que deve tá (incompreensível) as criança”. E ainda seg… A Ana tinha quatro anos, ela ainda puxou o pijama dele, pra ele não ir. E eu falei, “Não vai”, e ele falou, “Não, eu vou só ver o que tá acontecendo”. Ah… (breve silêncio) E foi pra ficar. E foi pra ficar mesmo.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): Se existe um modelo que parece nunca sair de moda, é o do herói. A gente encontra heróis em todo lugar. Quadrinhos, filmes, livros. Não existe quem não conheça vários deles. Eu aposto que você saberia citar dezenas. Eu, pelo menos, sim, já que heróis sempre estiveram na minha vida. Mas o curioso é que todos, sem exceção, têm algo em comum. O fato de conseguirem ir além. Ir onde nós, pessoas comuns, não conseguimos.
Voz: Ele é uma pessoa fantástica.
Joviana (narração): Essa aí que você acabou de ouvir é a minha avó, Nair, de 88 anos. E a tal pessoa fantástica que ela falou é o meu avô, João Fernandes da Costa. Eles foram casados por 20 anos, até que chegou o dia do meu avô virar herói. Mas antes de ser aclamado, todo grande herói tem um começo difícil. Com meu avô, não foi diferente.
Nair: As irmãs dele, todo dia, faziam um bolo pra eles tomar café de manhã porque morava longe da padaria. Então, era muita gente em casa, muita criança. Ele foi pra cozinha tomar café, o bolo tava inteiro. E falou, “Uai, hoje ninguém quis comer”. Não sabia, né, tinha sete anos, era uma criança. Aí, ele falou, “Ih, hoje eu vou comer um pedaço bem grande, porque ninguém comeu”. Ele pensou. Aí, mas ele pôs na boca e o bolo amargou. Tava amargando. Ele falou, “Ah, logo vi, por isso que ninguém quis”. Aí, ele tomou só café com leite dele lá, e pronto. Aí, ele viu todo mundo triste. Todo mundo triste. Aí, ele resolveu ir lá no quarto, a mãe dele tinha morrido. Ninguém tinha tirado ela de lá. Porque, antigamente, né. Aí, ele viu, ele falou, “Meu deus, agora minha vida vai mudar. Por isso que o bolo tava ruim. Eu perdi a coisa melhor do mundo, é a mãe”.
Joviana: Ela morreu do quê, vó?
Nair: Hemorragia interna. Naquela época, não tinha jeito.
Joviana: Ela tava grávida.
Nair: É, ué.
Joviana: E aí, ela morreu no parto.
Nair: Ela ganhou o menino…
Joviana: Uhum.
Nair: Depois, ela morreu.
Joviana: E a vida dele ficou difícil sem a mãe, vó?
Nair: Ficou muito. Muito difícil. Muito difícil.
Joviana (narração): Meu avô foi morar com o irmão, Antônio. E a vida de criança acabou cedo.
Nair: Aí, quando ele tinha 14 anos, já tinha feito o primário, aí, o irmão dele tinha ido pra outra cidade, que é em Bicas. Aí, já tava trabalhando, de ferroviário, né. Aí, arranjou emprego pra ele. Ele tinha 14 anos. Aí, ele foi trabalhar, trabalhou três meses de graça.
Joviana: Por quê, vó?
Nair: Ah, experiência, ué. Experiência, antigamente, era de graça. Aí, ele rezava, pedia a deus pra ele acordar, porque se não o Antônio ia ficar bravo, se ele não acordasse na hora, né. Ele falou que tinha uma voz no ouvido dele que chamava ele. Aí, ele… ele ficou assim, “Ah, eu não pedi isso, né”. Aí, chegava no outro ouvido e chamava ele. Três vezes. Aí, ele acordava.
Joviana: Acabou a vida que ele conhecia.
Nair: É. Aí, foi só trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Joviana (narração): A vida que parecia se resumir a trabalho constante toma novos rumos, ganha novas cores e sela o destino que se anunciava nas portas de uma igreja.
Nair: Tinha uma festa, em janeiro, de um santo lá. São Sebastião, eu acho. Aí, tinha uma festa. Aí, na igreja. Aí, tinha… a gente foi, mas eu não sabia que ele tava lá, porque ele não morava lá. Ele morava noutra cidade. Aí, antes de começar a cerimônia da mi… da Igreja, a gente tava na porta da igreja, conversando. Aí, chegou ele. Ele falou assim, “Eu tô muito interessado por você”. Eu falei, “Oh, tem duas aí que não tem nem namorado”. Falou, “Mas eu não quero elas”. Falei, “Ih, danou-se!”
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Nair: Eu casei em 1940. E aí, ele ficou contente.
Joviana: Daí, você já gostava dele?
Nair: Eu já gostava dele. Eu vi que ele era uma boa pessoa mesmo, né.
Joviana: E te conquistou.
Nair: É.
Joviana: Quanto tempo de casado, vó?
Nair: 20 anos… (breve silêncio) 20 anos.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): Vinte anos. Meu avô não sabia, mas ele só teria 20 anos para completar sua jornada e conquistar a medalha efetiva que o transformaria em um herói. Antes disso, no entanto, ele colecionou pequenos feitos heróicos. Histórias que eram contadas a mim, pela minha avó, de noite, antes de dormir. Algumas me davam um arrepio na espinha.
Nair: O homem tava sentado na calçada, pedindo esmola pra pegar o ônibus pra ir pra um hospital em Leopoldina. E uma cobra muito brava, muito venenosa mordeu ele. E a perna dele tava apodrecendo. Mas tava até com mau cheiro, ninguém queria passar ali perto. O seu avô, ele era um rapaz. Aí, ele viu aquilo lá, ele viu aquilo lá e falou, “Meu deus, o que é isso?!” Aí, o moço, “Você tem algum trocado aí procê me dar, eu quero juntar um dinheirinho pra mim pegar o ônibus, pra mim ir pro hospital”, não sei o quê… Ele falou, “Não, fica aí. Fica aí que eu vou arrumar o dinheiro pra você”. Saiu de casa em casa. Um rapaz faz isso? Não faz. Ele saiu de casa em casa, domingo, andando, pedindo, pedindo, pedindo, pedindo, todo mundo. Aí, ele arranjou dinheiro até demais. Que dava pra pagar a passagem, ainda sobrou dinheiro pra ele deixar com o homem, pra ele, se precisasse. Aí, o motorista não queria levar o rapaz, porque falou, “Ele tá com muito cheiro ruim, o povo vai reclamar”. Ele falou, “Vou embrulhar a perna dele tudo de jornal, quanto jornal for, vai abafar o cheiro, e você leva ele. Chega lá, você deixa ele no hospital!” Pagou a passagem, pôs ele lá no último banco, lá atrás. Os outros não ia implicar, né. Aí, levou ele. Passou três dia, três dia o moço tinha ido, e quando foi no outro dia, ele foi lá no ponto do ônibus pra perguntar ao moço se deu tudo certo. Falou, “Deu tudo certo, ele ficou lá no hospital, e ia ser operado”. Aí, passou três dia, ele tava dormindo, uma voz chegou no ouvido dele e falou assim, “Deus lhe pague a caridade”. Aí, “Meu deus, tô sonhando”. Aí, falou no outro ouvido a mesma coisa, “Deus lhe pague a caridade”. Três vez. Ele falou, “Meu deus, que é isso? Eu não fiz caridade nenhuma”. Nem lembrou disso, né. Aí, depois, pensando bem, ele falou assim, “Ah, eu vou procurar o… vou esperar o ônibus pra saber notícia do rapaz”. Aí, quando ele tava passando pra ir almoçar, o ônibus tava parado no ponto. Aí, ele pegou e perguntou o moço. O moço falou, “Ah, eu tava mesmo esperando pra te ver, pra te falar que ele morreu”. (breve silêncio) “Ah, meu deus”, ele falou, “Por um lado, foi bom, porque ele tava sofrendo, né. Mas ele me avisou que tinha mor… que morreu”. Foi a voz do rapaz, né, no ouvido dele.
Joviana (narração): Indignado com a situação degradante de moradores de rua, ele havia pedido à Prefeitura um terreno, pra construir um abrigo.
Nair: Ele tava fazendo um abrigo de… pra dormir a pessoa que ficava na rua, pra não dormir na estação, né. Porque lá não dorme na calçada mais, dorme na estação, ali deitado, né. Aí, ele tava fazendo. Já tava pronto, tava faltando alguma coisa. Ele comprava pijama pros outro tomar banho e dormir com dinheiro dele. Né ninguém que dava, não. Construiu sozinho, com ajuda de algum amigo, mas muito pouco, né. Mais ele, todo sábado e domingo, ele tava lá. E o abrigo tá lá, pra quem quiser ver.
Joviana: O que você acha que ele pensava, vó?
Nair: Hã?
Joviana: O que você acha que ele pensava?
Nair: Não, ele pensava que todo mundo tinha o direito de viver bem. Ele pensava assim, né. Por que aquela pessoa não tinha… né, as coisa direito?
Joviana (narração): Estamos acostumados a encarar o título de herói como uma coisa incrível, que todos desejam. Nos filmes, os heróis são sempre aqueles que, apesar das dificuldades, ficam com os aplausos, com a admiração de todo mundo. No entanto, é preciso mais do que atos de boa ação e caridade pra transformar um ser humano comum em um herói. É preciso coragem, doação e, principalmente, salvar pessoas. É isso que os heróis fazem, né? Mesmo que custe a própria vida.
Joviana: você lembra que dia que foi?
Nair: Nossa senhora! Que ele, Jô, ele gostava muito de mim, sabe. Ele, ele, tod… todo instante, ele falava assim, “Eu te amo, você não imagina o quanto eu te amo”. Aí, eu falava, “Brincadeira…”. Ele falava, “Não, né brincadeira não, é daqui no coração” (ela bate com a mão no peito).
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): No dia que meu avô virou herói, choveu. Muito (efeito sonoro de chuva, trovões ao fundo). Cenário típico de cena dramática. Todo mundo ouviu o barulho dos trovões, até que a coisa toda abrandou, até virar uma garoa fina, inofensiva. Foi aí que começaram outros barulhos.
Nair: As criança tava embaraçada no fio e ele tava deitado, lendo o jornal. Ele já tinha tomado banho, já tinha jantado, já tinha comido pudim que a (incompreensível) fez, que ele adorava, né. E, então, ele tava lendo jornal. Aí, a Lenira, que é a tia das criança, ela começou a gritar. Mas como naquela casa da esquina é uma casa enorme, tinha uma cachorra muito braba, eu falei, “Ah, deve ser a cachorra que avançou em criança, com certeza”. Mas eu não ia lá. Aí, ele falou, “Ih, mas tá uma gritaria de criança”. Aí, eu falei, “Ah, deixa pra lá, deve ser o cachorro lá da casa dos menino, lá”. Aí, ele falou, “Não, mas é alguma coisa séria, porque a moça tá gritando demais. Eu vou lá”. Falei, “Não vai! Já tamo de pijama pra dormir”. Aí, ele falou, “Não, vou. Vou ver, ué. Às vezes, eu posso fazer alguma coisa”. Pronto, foi pra morrer.
Joviana: Como é que foi, vó?
Nair: Ué, ele foi, chegou lá, ele entrou na casa duma mulher que morava lá perto, e as criança tava lá agarrada no fio, é. Mas é fio de alta tensão.
Joviana: Tinha caído um fio…
Nair: No chão. As criança vindo do cinema…
Joviana: E ficaram…
Nair: Embaraçou lá. Aí, ele… ele… Sabe o que ele fez? Nem pensou duas vezes, ele já salvou as criança.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Nair: Pegou um monte de jornal na casa da mulher, pra tirar o fio das criança.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Nair: Ele tirou o fio das criança, que as criança tá lá até hoje. Mas ele, ele f… o choque jogou ele, assim, no barranco do outro lado da rua.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Nair: Mas ele já caiu lá morto.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): “Agora, não esquecer o herói”. Estas palavras eram a introdução de um texto impresso em um papel de jornal velho e amarelo que a minha avó guardou por anos. Após a morte do meu avô, várias homenagens foram publicadas nos jornais da cidade. Essa era uma delas, assinada pelo poeta Chicre Farhat, em 1961. (Ela suspira) Meu avô tinha finalmente virado um herói.
Nair: Espalhou! Quando acontece uma coisa assim, já vai prum acidente, né. Espalhou na cidade inteira.
Joviana: Eles achavam que ele era um herói.
Nair: Ah, é. É, é… muita gente ficou falando sobre ele, sabe. Escrevendo… tinha o jornal de lá de Bicas, todo… Tudo naquele jornal falava dele. Tudo. Até a povo acalmar, né.
Joviana (narração): A casa ficou lotada. Encheu de admiradores, amigos e curiosos.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: Todo mundo gostava dele.
Nair: Todo mundo gostava dele. Nossa, tinha gente demais! Ficou gente até pelo lado de fora.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: Você sentia falta dele?
Nair: Muita. Muita.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: Quantos filhos, vó?
Nair: Sete. Oh, Jô, depois que o meu marido morreu, todo mundo dormia na minha cama. Uma cama de casal pra sete pessoas. Oito, comigo.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Nair: Todo mundo! É assim, ninguém queria dormir em lugar nenhum. Queria dormir comigo. Eu não podia nem chorar perto das criança, que as criança tudo agarrada comigo, né. Até passar uns tempo, passar uns tempo, eles ver que não…
Joviana: Que você não ia embora também.
Nair: Que eu… é. É.
Joviana: Era criança…
Nair: Era criança, né. Pois é.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: Depois, você passou muita coisa, né, vó?
Nair: Ih! Muito, muito. Muito. Muita coisa. Passei muita coisa (ela quase sussurra).
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: Como é que você cuidou de tudo sozinha, vó?
Nair: Pois é, procê ver.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana: No fim, deu certo.
Nair: No fim, deu certo, é. Eu fiz o que pude, né.
Joviana (narração): E foi aí, exatamente aí, que a minha cabeça explodiu.
(EFEITO SONORO: RESSOAR GRAVE DE EXPLOSÃO)
Joviana (narração): Eu iria descobrir, mais tarde, que eu havia entrado num estado de serendipidade. A palavra estranha vem do inglês, serendipity. Sem tradução pra nós. Ela significa aquele momento em que a gente encontra uma coisa importante enquanto estava procurando outra. Pra ser alvo de uma serendipidade, você tem que estar preparado pra ela. Você não sabe, mas estava aberto a ser atingido por ela. Uma coisa que você nem esperava descobrir, mas que te encontra e te abraça no meio do caminho.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): Enquanto eu procurava a transformação do meu avô em herói, achei uma heroína ao acaso. Escondida. Minha avó.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): Com a homenagem do poeta impressa no papel de jornal velho e mofado em mãos, olho para o parágrafo final que, agora, depois da serendipidade, ganhou novos significados. Compartilho as palavras agora com você (breve silêncio). (Voz com efeito de eco) “É duro dizê-lo, mas alguém terá que fazer com que os filhos de João Fernandes da Costa não se desesperem e, amanhã, acabem por condenar o gesto de seu pai. Alguém, eu não duvido, evitará que nasça no coração daquelas crianças a semente do desânimo e da descrença. O importante agora, senhores, é não esquecer o herói.”
Joviana: Quantos filhos, vó?
Nair: Sete.
Joviana (narração): Segundo o roteirista Robert Mckee, reconhecemos o herói no momento de conflito, de dificuldade. Heróis sempre estão lá pra te salvar. Meu avô atendeu o apelo de duas crianças apavoradas, no meio de uma noite. Agora, cabia à minha avó virar heroína por várias noites. Cabia a ela salvar sete crianças órfãs de pai.
Joviana: Se você ouvisse alguém contando essa história toda, você ia acreditar?
Nair: Ah, eu ia. Essas coisa acontece, Jô. As coisa acontece dum jeito que a gente nem pensa.
Joviana (narração): Eu finalmente tinha entendido quem foi a pessoa que impediu que aquela semente do desânimo e da descrença germinassem.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Joviana (narração): E no fim disso tudo, eu havia me dado conta de uma coisa. Nem sempre é fácil reconhecer os heróis. Na ficção, eles usam capas, máscaras e até óculos, pra se esconder, manter sua identidade protegida. Mas, na vida real, esse disfarce é mais sutil. Heróis sempre estiveram na minha vida, mas eu já te falei isso, né? Pra além do meu avô, que eu nunca pude conhecer, descobri que existem outros tipos de heróis. Eles não são eternizados em nomes de escolas, de ruas. Não têm biografias de centenas de páginas sobre as suas vidas. Mas eles estão por toda a parte. Estão por aí, escondendo sua identidade por trás de máscaras da rotina. Mas nós os conhecemos. Às vezes, os conhecemos desde sempre. Como eu e minha avó. Às vezes, eles nos ajudam, nos encorajam, nos salvam, ou mantêm a memória de outros heróis viva. No fundo, eles estão só esperando. Esperando por um momento de serendipidade, por uma oportunidade de serem reconhecidos por você.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Ivan (narração): Joviana Marques, também conhecida como Jovi Artwork, é uma ilustradora e colorista mineira de 27 anos, com uma paixão eterna pela criação. Possui mestrado na área de Arte, Cultura e Linguagens, pela Universidade Federal de Juiz de Fora, onde investigou temas relacionados à representação feminina em ilustrações americanas e brasileiras. Também atua como professora de Artes e é cofundadora do blog Clube do Livro JF. Os links estão na postagem.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Ivan (narração): No próximo episódio…
Voz 2: É… Só sei que a cidade, àquela época, era uma cidade faroeste, né. Todo mundo andava armado. Luiz Carlos tinha um amigo muito gozado, era um amigo inseparável dele, de infância, chamado Nissor, também já falecido. Encontramos lá com o Nissor, e eu fiquei lá uma semana, na casa do Luiz Carlos. E um belo dia, é… eu jovem, meio irresponsável, né. Eu devia ter uns 21 anos, por aí. Eu saí com o Luiz Carlos, na cidade. Luiz Carlos era advogado na cidade. Entramos num bar, e ele virou pra mim e falou, “Diogo, eu quero ver se você tem coragem mesmo. Tá vendo aquele cara, lá? Pois é, aquele cara é o cara mais bravo aqui da cidade. Todo mundo caga de medo dele. A coisa que aquele cara tem mais raiva que se faça com ele é colocar a mão no chapéu dele. Então, quero ver se você tem coragem de chegar lá, tirar o chapéu da cabeça dele e sair”. Eu falei assim, “É pra agora!”
Ivan (narração): Aqui, no Projeto humanos, O que faz um Herói.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
Ivan (narração): O Projeto Humanos é um podcast que visa apresentar histórias íntimas de pessoas anônimas. Ele tornou-se possível graças à ajuda dos patrões do Anticast, que contribuem mensalmente para que nossos programas continuem acontecendo. Se você gosta do nosso trabalho e gostaria que ele continuasse, você pode contribuir acessando o site do Anticast, anticast.com.br e clicando na seção “Seja Patrão”, ali no topo. Nos vemos na semana que vem.
(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)
FIM
Transcrição e edição por Sidney Andrade. Revisão por Marcela Brasil